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Brasil Especialistas alertam para o risco de contaminação do debate público na internet quando há opiniões compradas

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Esquema de elogios fake foi revelado por uma influenciadora digital. (Foto: Reprodução)

A compra de elogios de influenciadores digitais a candidatos e partidos políticos e o pagamento a usuários da internet para compartilhar conteúdo de propaganda política, para além de serem práticas proibidas pela legislação eleitoral, trazem o risco de contaminar o debate público nas redes sociais, avaliam especialistas ouvidos pelo jornal O Globo.

A advogada especializada em direito digital Flávia Penido alerta para um possível efeito danoso de perda de credibilidade das discussões na internet, que se tornou o principal fórum público nos últimos anos:

“A partir do momento em que você não tem certeza se aquela pessoa emitiu opinião porque acha isso mesmo ou porque é paga, você fere a credibilidade da rede. Cria-se um ambiente turvo, em que não se consegue definir o que é verídico ou espontâneo. Por isso existe a legislação exigindo que se obrigue a dizer o que é publicidade e o que não é. Atinge a credibilidade da rede, em última análise é até um ataque até à democracia”, avalia Penido. “Fake news não é só você ter a informação incorreta. Também é a manipulação de como a informação é distribuída na rede. Quando muita gente fala de um assunto, isso vira pauta. Fabricar isso de forma não orgânica é uma forma artificial de ter o controle da narrativa.”

Diretor da DAPP (Diretoria de Análise de Políticas Públicas) da FGV, Marco Aurélio Ruediger diz que casos como de compra de elogios na internet pelo PT impactam em como os discursos políticos são percebidos nesses espaços virtuais:

“Isso é diferente de robôs, por exemplo. Esses influenciadores têm certa reputação com seus seguidores, que geralmente já compartilham parte de suas opiniões. Uma hipotética manipulação do discurso leva a uma distorção de importância de um candidato A ou B dentro dessa rede”, explica Marco Aurélio Ruediger, diretor do DAPP da FGV.

Para ele, é natural que um influenciador tenha viés, o que se torna problemático caso haja uma orquestração de interesse partidário. Esse tipo de propaganda, que não é aceito pela justiça eleitoral, chegava a pagar R$ 1 mil por mês aos usuários que fizessem postagens positivas sobre os candidatos. A mudança de comportamento geraria um abismo não só de confiança, mas também de legalidade em uma “eleição curtíssima e extremamente acirrada”, onde ainda não “se sabe com certeza absoluta a influência do discurso da internet no resultado eleitoral”.

“Se chega nesse nível, você induz o debate de forma artificial. Vivemos uma polarização que é diferente da de 2014. Hoje, ao contrário daquela época, há disputa interna em ambos os campos políticos. Há uma briga pelo protagonismo tanto na esquerda quanto direita”, argumentou o pesquisador.

Segundo Ruediger, a fragmentação dos polos políticos em diversas candidaturas acaba criando um cenário de disputa intensa dos candidatos para se tornarem consenso em suas áreas. As redes sociais, portanto, ocupariam um papel importante nessa decisão e poderiam ser impactadas pela criação desses consensos artificiais causados pelo pagamento de influenciadores.

Para Pablo Ortellado, professor e pesquisador do Monitor do Debate Público no Meio Digital da USP, a descoberta pode prejudicar ainda mais o debate e o diálogo entre os polos políticos. Ainda que o PT tenha negado, através de sua presidente Gleisi Hoffmann e o vice-candidato da chapa presidencial Fernando Haddad, que houve alguma ação do partido para pagar os influenciadores, a rispidez dos embates políticos pode se intensificar por conta do episódio.

“Ainda é cedo para se determinar, mas, caso se confirme, pode abalar a credibilidade de algumas vozes da esquerda. Se confirmar a magnitude do que aconteceu, vai colocar sob suspeita uma série de pessoas que tinham uma voz importante nas redes. Isso reforçaria também preconceitos infundados da direita, que poderia passar a apontar o caso para tentar descreditar o diálogo. Isso pode diminuir o diálogo entre os dois lados”, explica.

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https://www.osul.com.br/especialistas-alertam-para-o-risco-de-contaminacao-do-debate-publico-na-internet-quando-ha-opinioes-compradas/ Especialistas alertam para o risco de contaminação do debate público na internet quando há opiniões compradas 2018-09-01
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