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Por Redação O Sul | 29 de julho de 2018
Um voo às cegas: é assim que economistas, advogados especializados em negócios e investidores definem a situação atual da economia brasileira: a pouco mais de dois meses da eleição presidencial, o cenário está tão indefinido que é difícil saber se o próximo governo federal será de esquerda ou direita, com um presidente reformista ou disposto a ampliar o tamanho do Estado.
Diante disso, a economia, que já está em marcha-lenta, deve se manter em ponto-morto até outubro. É uma má notícia, já que reforça a paralisia dos setores, põe investimentos em compasso de espera e pode reduzir ainda mais as expectativas para o PIB (Produto Interno Bruto) para este ano.
A lentidão da economia está evidente em relatórios como o Focus, do BC (Banco Central), que reúne a média das previsões para o País. A previsão para o crescimento do PIB, que chegou perto de 3% em fevereiro, caiu consistentemente desde então e hoje está em 1,5%. Embora os dados já mostrem o efeito dos problemas até aqui, a eleição poderá agravar o quadro, segundo o economista Álvaro Bandeira, do Banco Modal.
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, também acredita que a eleição poderá ser mais um fator de estresse para a economia. No início do ano, a equipe do banco chegou a projetar cerca de 3% de avanço para o PIB nacional. Neste mês, revisou para baixo suas previsões e já trabalha com um índice inferior à pesquisa Focus, de 1,3%.
A reticência do investidor em tomar decisões é compreensível, na avaliação do advogado especializado em fusões e aquisições Carlos Mello, do escritório Souza, Mello e Torres, uma vez que o cenário político tem hoje a maior indefinição desde a campanha que levou à primeira vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
Risco
Analistas dizem que, na hora de investir no País, ameaças macroeconômicas podem levar a um desconto nos preços dos ativos nacionais O risco gerado pela indefinição política – ou, posteriormente, por um governo pouco comprometido com uma agenda econômica de reformas estruturais – poderá levar a uma mudança na forma como o investidor estrangeiro enxerga o Brasil, e o quanto está disposto a pagar para administrar um serviço público ou adquirir uma empresa por aqui.
Por enquanto, os indicadores mostram que o “susto” dos estrangeiros com o Brasil está mais no capital especulativo do que nos investimentos de longo prazo. Na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), deve ocorrer este ano a primeira fuga de capital estrangeiro desde 2011. Até meados de julho, mais de R$ 9 bilhões de dinheiro externo tinham sido retirados do mercado nacional. No setor produtivo, houve uma desaceleração mais contida.
A expectativa para o investimento estrangeiro direto no País, segundo o Banco Central, é atualmente de US$ 70 bilhões, estabilidade em relação a 2017. Em janeiro, a projeção era de US$ 80 bilhões.
Embora esteja no time dos que acreditam que o receio com a eleição não está deixando empresários apavorados nem interrompendo bruscamente processos de fusão ou aquisição já em andamento, Meira ressalta que, muitas vezes, as crises podem criar oportunidades que não estariam disponíveis em um cenário mais tranquilo. Isso vale tanto para a disponibilidade de determinados ativos quanto para o preço cobrado por eles.
Alívio
O advogado Carlos Mello, do escritório Souza, Mello e Torres, diz acreditar que, independentemente do resultado da eleição, o volume de negócios voltará a crescer. Ou seja: alguma definição é melhor do que a situação atual. “O investidor estrangeiro que está aqui e conhece o País vai buscar oportunidades”, diz.
Ele ressalva que, dependendo do resultado das urnas, poderá ser mais ou menos difícil para o Brasil atrair capital que ainda não esteja por aqui. “A verdade é que nenhum dos candidatos empolga. Não existe paixão (do setor produtivo) por qualquer um dos presidenciáveis.”
No entanto, Álvaro Bandeira, economista do banco Modal, acredita que o resultado da eleição pode ser pior do que a indefinição atual. Segundo ele, não só a intenção do vencedor em fazer as reformas estruturais e resolver a situação das contas do governo, mas sua capacidade política de levar as mudanças adiante influenciará na economia em 2019.
“Para este ano, a situação já está mais ou menos definida: o crescimento será fraco de qualquer maneira”, diz. O problema, segundo ele, está em 2019: com um cenário internacional também difícil, guerra comercial e alta de juros nos Estados Unidos, dependendo do caminho político que o País escolher, há risco até mesmo de recessão.