Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de março de 2020
Realizado em parceria entre o governo gaúcho e universidades federais do Estado, um estudo inédito pretende determinar, com base científica, um percentual mais realista da população infectada pelo coronavírus no Rio Grande do Sul e o ritmo de avanço local da pandemia. O plano é identificar a ocorrência de casos por regiões e o contingente de contaminados que não apresentam sintomas.
“Quando os primeiros resultados surgirem, o estudo será uma das principais referências ao governo gaúcho na definição de estratégias de enfrentamento da pandemia”, ressalta o governador Eduardo Leite. “Todas as medidas que adotamos até o momento sempre tiverem a ciência como base. Agir diferente disso representa colocar a vida em risco. Essa pesquisa nos trará um cenário de prevalência da Covid-19 ainda sem similar e será fundamental para os próximos passos.”
Sob a coordenação do reitor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), Pedro Curi Hallal, o trabalho da epidemiologia da Covid-19 mobiliza um grupo de especialistas de outras quatro instituições federais de ensino: UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e Unipampa (Universidade Federal do Pampa).
A ideia surgiu nas discussões internas do Comitê de Análise de Dados sobre a pandemia, instituído há poucos dias pelo governador, e que tem no comando a titular da Selag (Secretaria Estadual de Planejamento, Orçamento e Gestão), Leany Lemos.
A titular da pasta explica que o colegiado já vinha oferecendo estudos e indicadores para avaliação do governo, a partir da situação do coronavírus em outros Estados e países, bem como dos primeiros diagnósticos no Rio Grande do Sul: “Conseguimos projetar alguns cenários, mas que agora, com essa testagem amostral na população, será possível identificar focos e fazer políticas de contenção social. Teremos evidências inéditas e que serão importantes para dimensionarmos as reais necessidades do sistema de saúde”.
Pesquisa de campo
A primeira rodada de aplicação dos testes por amostragem deve ocorrer nos próximos dias, tão logo cheguem ao Estado os kits disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Conforme detalhou o reitor da UFPel, serão 4,5 mil coletas a cada uma das quatro pesquisas de campo prevista pelo estudo (com intervalo de duas semanas entre cada uma delas).
Doutor em Epidemiologia, Hallal observou que o perfil do trabalho permitirá conhecer os primeiros resultados sobre a prevalência da Covid-19 na população dois dias após a aplicação dos testes:
“Ao conhecermos a proporção de infectados e a velocidade de expansão da doença, poderemos recomendar estratégias para os serviços de saúde baseadas em dados reais, da nossa própria população. É algo que todos os governos, locais, regionais e nacionais precisam nesse momento. O Rio Grande do Sul certamente servirá de exemplo para outras regiões”.
Diante da impossibilidade material de testar a população em geral (atualmente o diagnósticos são realizados em casos de internação), o estudo de prevalência da doença é um mecanismo seguro para estimar o percentual de infectados a partir de testes em pessoas selecionadas.
Ao mesmo tempo, permitirá com maior grau de acerto estimar a taxa de letalidade da Covid-19, o que certamente será determinante nas próximas decisões sobre o confinamento ou não ao longo das próximas semanas.
Regiões
Serão 18 mil testes, divididos em quatro rodadas a serem implementadas com intervalo de duas semanas, com coletas nas residências. A cada etapa, novas pessoas serão diagnosticadas. A partir de critérios do perfil populacional definidos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a pesquisa de campo será em oito regiões intermediárias:
– Pelotas;
– Santa Maria;
– Uruguaiana;
– Ijuí;
– Passo Fundo;
– Caxias do Sul;
– Santa Cruz do Sul/Lajeado;
– Grande Porto Alegre.
(Marcello Campos)