Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 3 de janeiro de 2016
Quanto custa duas horas e meia para executivos apressados e ricaços? Doug Nichols, diretor-presidente da fabricante de aviões Aerion Corp., estima algo em torno de 120 milhões de dólares. Ele passou sete anos desenvolvendo um jato executivo supersônico que pretende ocupar o nicho de mercado que ficou vago quando o Concorde parou de voar, em 2003. Seu público-alvo são aqueles que precisam voar de Londres (Inglaterra) a Nova York (EUA) ou vice-versa em quatro horas e meia, em vez de sete.
A Aerion tem o projeto mais avançado entre outros semelhantes. Há pouco tempo, Nichols recebeu encomendas para seu planejado avião, o AS2, que terá capacidade para 12 passageiros. Mas antes que ele alcance seu objetivo de fazer o primeiro voo em 2021 e entrar em serviço dois anos depois, a Aerion precisa superar o ceticismo há muito existente entre financiadores e fabricantes de jatos executivos sobre a viabilidade de aviões supersônicos. Ela necessita também convencer possíveis compradores e reguladores dos méritos dessas aeronaves.
A Aerion estima que o AS2 custará 4 bilhões de dólares para ser desenvolvido, produzido e certificado, o que vai exigir um novo financiamento, dado que a empresa desistiu de um plano de licenciar sua tecnologia para outro fabricante. Seu cronograma para chegar ao mercado é bastante agressivo até para fabricantes mais experientes.
O principal obstáculo permanece a proibição de voos de jatos comerciais a velocidades supersônicas sobre os Estados Unidos. Outros países também exigem que aviões de alta velocidade passem o maior tempo possível sobre o oceano para evitar o estrondo característico produzido pela ultrapassagem da velocidade do som.
“A rota mais direta não é necessariamente a mais rápida”, diz Nichols a respeito do plano de voo que o AS2 terá que adotar para se desviar das costas dos EUA e do Canadá e ligar Nova York a Londres – reduzindo, ao mesmo tempo, duas horas e meia do tempo gasto por um jato executivo convencional seguindo uma rota mais direta em uma velocidade próxima à do som.
O primeiro avião conceitual da Aerion foi lançado em 2007 e recebeu 50 encomendas, mas o projeto foi cancelado dois anos depois, quando a crise financeira reduziu as vendas de novos jatos executivos, um colapso do qual o setor ainda está tentando escapar.
A Dassault Aviation AS e a Gulfstream, unidade da General Dynamics Corp., estão pesquisando o mercado supersônico, mas nenhuma delas pretende lançar novos modelos. As concorrentes da Aerion continuam céticas sobre o mercado supersônico, que elas afirmam se limitar à travessia transatlântica. “Um jato executivo naquele espaço não faz sentido”, diz um executivo de uma fabricante de jatos.
Ainda assim, em novembro, o AS2 garantiu seus primeiros pedidos, feitos pela Flexjet LLC, uma empresa especializada em aviões de propriedade fracionada. A empresa encomendou 20 unidades. “O avião tem uma missão muito específica”, diz Kenn Ricci, presidente do conselho da Flexjet.
Ricci diz que a Flexjet passou um ano estudando o AS2 como uma adição à sua frota crescente, de olho nos passageiros endinheirados e com pouco tempo que viajam por rotas populares de jatos executivos, como Londres a Nova York ou Dubai, ou entre cidades do Golfo Pérsico ou da China.
As leis da aerodinâmica exigem que os aviões supersônicos sejam longos e finos. O AS2 terá 52 metros de comprimento e um peso máximo de decolagem em torno de 55 toneladas, o que limitará seu uso em aeroportos menores como o de Teterboro (EUA), favorito dos altos executivos de Wall Street.