Quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de agosto de 2022
O sol nascia em Cabul quando dois mísseis Hellfire disparados por um drone militar americano encerravam o reinado de uma década de Ayman al-Zawahiri como líder da Al Qaeda, no domingo (31). O sucesso dos disparos também concluíam uma operação audaciosa dos EUA, planejadas ao longo de meses na área de contraterrorismo.
Autoridades americanas construíram um modelo do esconderijo onde Al-Zawahiri estava e o levaram até a Casa Branca para mostrá-lo ao presidente Joe Biden. Observaram tanto a vida do terrorista mais procurado do país que construíram um “padrão de vida” de forma meticulosa. Por isso, sabiam que Al-Zawahiri gostava de se sentar na varanda de casa – e estavam confiantes de que ele estaria lá no momento em que os mísseis foram disparados, como de fato estava.
Segundo Joe Biden, anos de esforços de agentes de inteligência dos EUA para rastrear Al-Zawahiri e pessoas próximas a ele tiveram resultados no início deste ano, quando o terrorista foi localizado. Ele foi procurado por duas décadas, período em que os EUA tiveram quatro presidentes.
Ayman al-Zawahiri se tornou o número 2 na lista de mais procurados dos EUA em 2001, após os ataques do 11 de setembro. Ele foi co-planejador dos ataques e era braço direito de Osama bin Laden, então líder da Al-Qaeda e o único a ser mais procurado.
Bin Laden foi assassinado em 2 de maio de 2011 por uma equipe de assalto dos EUA liderada pelos membros da força especial da Marinha. Al-Zawahiri assumiu o posto de líder e, uma década depois, também morreu.
A família de Zawahiri era apoiada pela rede Haqqani, um grupo que faz parte do governo taleban, e passou a residir na residência de Cabul quando os americanos retiraram as tropas militares após 20 anos de combates. Neste período, os EUA pretendiam, em parte, manter o controle do país e impedir a Al-Qaeda de recuperar uma base de operações no Afeganistão.
O primeiro passo da operação foi saber que Zawahiri estava em Cabul. Os próximos eram confirmar a identidade, planejar um ataque em uma cidade lotada, de maneira que não colocasse a vida de civis em risco, e garantir que a operação não atrasasse outras prioridades dos EUA. Foram necessários meses para o plano se concretizar.
Esse esforço envolveu equipes independentes de analistas que chegaram a conclusões semelhantes sobre a probabilidade de Al-Zawahiri de fato estar no local especulado. Depois, houve a construção da maquete em escala e estudos de engenharia da residência, para avaliar os riscos para as pessoas que estariam próximas. A recomendação unânime dos assessores de Joe Biden para prosseguir com o ataque foi o último passo.
“Eu autorizei o ataque de precisão que o tiraria do campo de batalha de uma vez por todas. Essa medida foi cuidadosamente planejada, com rigor, para minimizar o risco de danos a outros civis”, declarou o presidente americano, que classificou a operação de “clara e convincente”.
Errar nesse tipo de decisão pode ser devastador. Há um ano, os EUA realizaram um ataque de drone em meio à caótica retirada das forças americanas do Afeganistão e matou 10 civis inocentes, dos quais 7 eram crianças. Desta vez, Biden ordenou o que as autoridades chamaram de “ataque aéreo sob medida”, projetado para que os dois mísseis destruíssem apenas a varanda da residência fortificada onde Al-Zawahiri estava escondido há meses, poupando pessoas em outras partes do edifício.
Segundo um alto funcionário do governo dos EUA, Al-Zawahiri foi identificado em várias ocasiões, por longos períodos de tempo na varanda onde morreu. Ele acrescentou que diversas informações de inteligência convenceram os analistas americanos da presença dele no local, eliminando “todas as opções razoáveis” que iam além da presença do terrorista. As informações são da agência de notícias AP.