Terça-feira, 21 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de março de 2020
Até o dia 4 de março, estrangeiros já sacaram R$ 44,8 bilhões da Bolsa de Valores brasileira em 2020. O valor – sem contar ofertas de ações – é maior que o montante retirado durante todo o ano passado (R$ 44,5 bilhões). A evasão também supera a retirada de 2008, a maior da série histórica, quando foram sacados R$ 44,6 bilhões em um período de crise financeira.
A velocidade de saída também é recorde, cerca de R$ 1,05 bilhão por pregão, e supera a média diária de 2008. Se considerados as IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) e follow-ons (oferta subsequente de ações), o saldo de estrangeiros está negativo em R$ 33,4 bilhões neste ano. Em 2019, considerando-se essas operações, a saída foi de R$ 4,7 bilhões.
Analistas apontam que a saída de investidores estrangeiros não é exclusividade do Brasil, mas ocorre com mais intensidade e rapidez por aqui devido à importante presença desses investidores no país e à ampla liquidez do mercado brasileiro. Com base no volume de compra e venda de ações na Bolsa, os estrangeiros são 45% do total em 2020. Institucionais (bancos e fundos) são 33% e pessoas físicas, 17,6%.
“O fato da economia brasileira patinar reduz a atratividade para estrangeiros”, avalia Paulo Gala, diretor-geral da Fator Administração de Recursos. “O fluxo de saída está ligado à falta de expectativa de crescimento no Brasil, algo que foi intensificado pelo coronavírus porque, em horas de pânico, investidores conseguem se desfazer de posições aqui.”
Neste ano, com o temor de investidores com o impacto econômico do coronavírus e desaceleração da economia global, estrangeiros vendem ativos com maior velocidade em países emergentes em busca de investimentos mais seguros, como o ouro e títulos do Tesouro americano, algo que se reflete na desvalorização de praticamente todas as moedas emergentes, com exceção do renminbi chinês e dólar de Taiwan.
Desvalorização cambial
Dentre todas as moedas globais, o real é a que mais se desvaloriza no ano, perdendo 15,5% ante o dólar. Nesta sexta, após novos leilões do BC de swap cambial no valor de US$ 2 bilhões, a moeda americana caiu 0,4%, a R$ 4,634. O turismo está a R$ 4,81 na venda.
Para esta segunda-feira (9), o BC anunciou mais US$ 1 bilhão em leilões de swap cambial. A medida aumenta a oferta da moeda no mercado, já que o BC oferece contratos que remuneram o investidor pela variação cambial, o que ajuda a reduzir o preço do dólar.
Já a Bolsa de Valores brasileira teve o segundo pregão seguido de forte queda nesta sexta e fechou abaixo do patamar simbólico de 100 mil pontos pela primeira vez desde outubro. O Ibovespa recuou 4%, a 97.996 pontos, menor patamar desde 27 de agosto de 2019. Na semana, cai 6% e, no ano, 15%.
A queda nesta sessão foi pressionada pela Petrobras, cujas ações despencam com a queda internacional do petróleo. As ordinárias (com direito a voto) caíram 10,25%, a R$ 24. As preferenciais (sem voto), 9,7%, a R$ 22,83.
O contrato futuro do barril do Brent caiu 9%, a US$ 45,46, menor valor desde 2016, depois que Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e Rússia não entraram em acordo sobre cortes mais profundos na produção de petróleo, para manter o patamar do preço com a queda na demanda em meio a epidemia de coronavírus.
O risco-país do Brasil medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos, um tipo de contrato que funciona como termômetro da confiança dos investidores em relação a economias, subiu 10,7%, a 142,9 pontos, maior patamar desde outubro de 2019, antes da reforma da Previdência ser aprovada no Senado.
Na última quinta-feira (5), o CDS brasileiro subiu 14,4%, a maior alta percentual diária desde o chamado Joesley Day, em 18 de maio de 2017, dia em que veio a público a informação de que Joesley Batista gravara conversa com o então presidente Michel Temer (MDB). Na ocasião, o risco-país teve alta de 29%, para 265 pontos.
Se o CDS sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do País; se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.