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Por Redação O Sul | 2 de julho de 2019
A premissa era poderosa. Cinco estudantes brasileiros entre 14 e 15 anos apresentaram na segunda-feira (01) nos Estados Unidos os resultados de uma missão espacial que mirava a possível ocupação de outros planetas do Sistema Solar.
Quando foram chamados ao palco montado no Museu Nacional do Ar e do Espaço, na cidade de Chantilly, em Virgínia, Laura, Guilherme, Otto, Natan e Sofia estavam prontos para mostrar em pouco menos de dez minutos o que tinham descoberto após quase dois anos de pesquisa. Em inglês, explicaram a uma plateia de professores, especialistas e outros alunos a reação de um composto de cimento com pó de plástico verde exposto à microgravidade.
Caso reagisse bem, segundo a hipótese dos estudantes, a mistura poderia ser uma alternativa para a construção de colônias humanas fora da Terra. O experimento foi enviado em julho do ano passado à ISS (Estação Espacial Internacional) e, após um mês no espaço, retornou para a análise dos primeiros brasileiros a concluírem uma missão desse tipo.
A cristalização da mistura entre água, cimento e pó de plástico verde – que protege a substância da radiação – foi menor no espaço, e ainda não há consenso na comunidade científica sobre as consequências do processo. Mas nada pode ser descartado, explicam os estudantes em um jogral já não mais tão ensaiado após a apresentação oficial.
Otto Gerbaka, Guilherme Funck e Laura D’Amaro afirmam que serão necessárias novas pesquisas para garantir se será possível ou não usar o composto para a construção de estruturas e peças que ajudem, por exemplo, na logística de missões espaciais.
“Os pesquisadores se dividem. Tem uns que acham que é bom [cristalizar menos no espaço], porque a substância ficaria mais flexível, mas têm outros que acham ruim, porque ficaria mais dura”, explicou Otto. “Precisa fazer mais testes, já que é um tema muito complexo e a área é nova”, completou Laura.
As conclusões imediatas, porém, são bem mais fáceis de serem aplicadas na vida dos alunos, que mudaram após participarem do Programa de Experimentos Espaciais para Estudantes. O projeto, que acontece uma vez por ano em parceria entre o governo dos EUA e a Nasa (agência espacial americana), está em sua 13ª edição. Alunos da rede pública no início do projeto, Natan Cardoso e Sofia Palma ganharam bolsa de estudo em escolas particulares.
Os outros três estudantes dizem que amadureceram e melhoraram a fluência em inglês e no trabalho em grupo. “A gente ganhou oportunidade de ir para escolas melhores”, disse Sofia, que era aluna do Projeto Âncora e agora estuda no Dante Alighieri, um dos mais tradicionais colégios de São Paulo. Morador de Paraisópolis, Natan, por sua vez, migrou da Escola Municipal Perimetral para a unidade do bairro do Morumbi do colégio Anglo.
Em 2017, o engenheiro espacial Lucas Fonseca desenvolveu o projeto com o Dante e as outras duas escolas públicas, selecionando os melhores entre 320 estudantes brasileiros para apresentar o experimento à Nasa, agência espacial americana. Antes deles, nenhum país fora da América do Norte havia participado programa. No ano passado, Fonseca conseguiu 4.140 inscritos – outros cinco escolhidos – e, este ano, até 25 de julho ainda seleciona candidatos para viajarem aos EUA em 2020.