Quinta-feira, 04 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de setembro de 2015
Imagine tomar uma dose de uísque ou uma taça de vinho todo dia, antes do jantar, por prescrição médica. É o que recomenda um estudo polêmico publicado no periódico Alcoholism: Clinical and Experimental Research.
O artigo faz um balanço de 49 pesquisas publicadas entre 1997 e 2013 e conclui que “os médicos deveriam aconselhar abstêmios a relaxar e tomar uma bebida por dia” para ajudar a prevenir doenças, como as cardiovasculares, a osteoporose e até a obesidade.
Isso porque o álcool contém propriedades anticoagulantes, que reduziriam o risco de derrames, particularmente em mulheres. Além disso, as bebidas alcoólicas aumentariam a sensibilidade do organismo em relação à insulina, diminuindo as chances de desenvolver diabetes.
Um dos estudos citados pelo documento, por exemplo, observou que mulheres que bebiam até 30 gramas de álcool por dia (o equivalente a duas latas de cerveja) tinham risco menor de sofrer um derrame em relação àquelas que não bebiam nada.
Apesar dos resultados otimistas, o médico Wilson Jacob Filho diz que é preciso interpretar esse tipo de estudo com cautela.
Ele ressalta que as pesquisas que analisam os possíveis benefícios do álcool apresentam correlações apenas entre dois eventos, mas não provam uma relação de causa e efeito.
Assim, no estudo indicado, não há evidência para afirmar que o consumo de álcool é capaz de reduzir o risco de derrame. É um resultado que deve ser tratado como uma coincidência, e não uma recomendação.
“A evidência que existe é que quem bebe moderadamente tem uma condição de vida, em determinados casos, igual ou melhor do que aqueles que não bebem”, diz. Isso não significa que uma pessoa abstêmia que passe a ingerir álcool viverá melhor.
Os efeitos do álcool variam entre homens e mulheres (eles são mais tolerantes), em função do peso corporal e da idade. Quando envelhecemos, a quantidade de água no corpo diminui, tornando a diluição do álcool mais difícil. Por isso, a sensibilidade aumenta, e pequenas doses já causam grandes efeitos.
O álcool é vetado para quem tem doenças no fígado, úlcera, arritmia cardíaca ou altos níveis de triglicérides (gordura presente em carnes, óleos e alimentos ricos em açúcar). Pessoas com gastrite ou diabetes podem tomar quantidades limitadas, somente após consultar o médico. É comum ouvir dizer que o vinho tinto faz bem para o coração. Há diversas pesquisas que o associam a um menor risco de ter doenças cardiovasculares.
A explicação é que o vinho contém substâncias antioxidantes, como flavonoides e resveratrol. Mas isso não é justificativa para começar a beber. “O mesmo benefício é obtido com suco de uva”, explica Jacob.