Terça-feira, 07 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de julho de 2015
A visita da presidenta Dilma Rousseff aos Estados Unidos teve como um de seus objetivos virar a página do mal estar criado nas relações bilaterais pelas denúncias de que a NSA (Agência de Segurança Nacional norte-americana) teria espionado figuras do alto escalão do governo brasileiro. Foram tais acusações, feitas pelo ex-funcionário da NSA Edward Snowden, que levaram Dilma a cancelar uma visita oficial ao país em 2013.
Dois anos depois, ainda é impossível ter garantias de que esse tipo de espionagem não se repetirá, segundo Hartmut Glaser, secretário-executivo do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), entidade que administra a distribuição de endereços eletrônicos e zela pelo funcionamento da rede no país. Confira entrevista com o secretário-executivo do CGI:
Dois anos após o escândalo da NSA, em que avançamos no que diz respeito às garantias contra esse tipo de espionagem?
Acho que, para começar, nunca foi provado que o problema denunciado pelo Snowden estava ligado à internet. Pode ser que a espionagem tenha ocorrido via telefonia, por celular. Temos cada vez mais usuários na internet – o que é bom. Mas isso de fato também aumenta o risco de existência de hackers e de uma invasão.
Mas então não há como limitar a espionagem ou a exposição de dados?
Você nunca vai ter uma estrada que não tem acidente. Ou melhor… na realidade, é muito fácil acabar com todos os acidentes da [Via] Dutra: basta fechar a Dutra. Mas isso é aceitável? Não. O mesmo ocorre com a internet. Precisamos tomar cuidado com os extremos. A internet é uma ferramenta essencial, muito útil, mas deve ser usada com critério.
E o caso de e-mails confidenciais de chefes de Estado?
Não tenho acesso aos dados do governo brasileiro, mas, pelo que soube, na época [do escândalo da NSA] o software usado era um software comum, sem muita proteção. Algo que já recomendamos ao governo, e eles estão trabalhando nisso, é que deveria haver uma rede própria.
Por que interessa quem está no controle da ICANN (Corporação da Internet para Designação de Nomes e Números)?
A internet é como uma árvore. No topo estão alguns computadores em que estão registrados os chamados top level domains – o que está a direita do nome de domínio. No caso do Brasil é o .br. Esse código está em 13 computadores e o computador principal está nos EUA. Então, se por algum motivo eles desligarem o .br desse computador, todos os domínios do Brasil deixam de existir. Na prática isso quer dizer que hoje o poder de desligar a internet está nas mãos de um país, e as pessoas questionam isso.
Tecnicamente, hoje, os Estados Unidos poderiam desligar a internet da China ou do Brasil?
Poderiam. Por isso países como a China e a Rússia sempre fizeram certa oposição aos EUA e quiseram participar. Na realidade, no ano passado, os chineses aderiram a esse modelo setorial. Eles estavam querendo sair e criar uma internet própria, o que fragmentaria a rede. Em um encontro na semana passada, a Índia também aderiu a uma internet para todos trabalharem juntos. Hoje, a grande expectativa é em torno da Rússia. Mas estamos convergindo para uma solução: uma internet, um protocolo, uma forma de comunicação que precisam ter um gerenciamento global representativo. (AG e BBC)