Terça-feira, 25 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de junho de 2015
Dez anos depois de denunciar o mensalão ao jornal Folha de S.Paulo, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), 61 anos, afirma que o PT implantou o “padrão Fifa de corrupção” no Brasil. O petebista deixou a cadeia há três semanas. Cumpre prisão domiciliar em um condomínio de alto padrão na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, onde já viveram os ex-craques Romário e Ronaldo. A entrevista foi autorizada pela Vara de Execuções Penais do Rio de Janeiro. Leia a seguir os principais trechos.
Por que você decidiu denunciar o mensalão?
Decidi dar a entrevista porque tinha sido vítima de uma matéria que deflagrou o processo da minha cassação. Aparecia um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo 3 mil reais e dizendo que era para o PTB. Era uma pessoa com quem eu não tinha nenhuma relação. Virei o grande vilão nacional por 3 mil reais. A matéria foi feita por encomenda da Casa Civil [então chefiada por José Dirceu]. Nós identificamos imediatamente de onde veio.
O governo tentou algum acordo para silenciá-lo?
Quando eu estava sob tiroteio, foi à minha casa o líder do governo, o [deputado Arlindo] Chinaglia [PT-SP], e propôs um acordo. “Roberto, você renuncia à presidência do PTB, o governo designa um delegado ferrabrás para o processo, ele arquiva e tudo se acerta.” Eu disse: “Não aceito. Eu entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente. Só que eu vou carregar um bocado de caras comigo. Vocês não vão me ver de joelhos, eu vou enfrentar vocês”. [Chinaglia nega.]
Dez anos depois, o PT diz que não se comprovou o pagamento a deputados.
Havia mesada. A [Operação] Lava-Jato agora clareou isso. Por respeito à decisão do ministro [do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto] Barroso, eu só posso falar do passado. Mas o [Alberto] Youssef fazia pagamento mensal para vários deputados de partidos da base. Era aquilo que havia na época. As malas chegavam com 30 mil reais, 60 mil reais, 50 mil reais. Não se comprovou porque não fotografaram.
Por que você não aceita ser chamado de delator?
Isso me deixa chateado. Delator é quem está dentro. Eu não deixei o PTB entrar no mensalão, não aluguei minha bancada. Quando o juiz me propôs a delação premiada, respondi: “Excelência, delação premiada é conversa de canalha. Quem faz delação premiada é canalha”.
Você afirmou que o ex-presidente Lula era inocente. Mantém a versão?
Eu avisei o presidente [sobre o mensalão]. A reação dele à época me deu a impressão de que ele não soubesse. Quero crer que ele não sabia.
Seu advogado disse que Lula chefiou o esquema.
Aí foi a liberdade do advogado. Eu dizia: “Para de bater no Lula, pelo amor de Deus. Você tá contrariando o que eu disse, tá me deixando de mentiroso”. Foi quando ele renunciou [à defesa]. Ele é convencido de que o Lula tem culpa, de que não se faria uma coisa dessa envergadura sem o presidente saber. Ele é meu amigo, é um grande advogado, mas não obedece o cliente (risos).
Qual foi a maior consequência de sua denúncia para o País?
Caiu aquele véu que havia sobre o PT, de partido ético, moralista. O PT posava de corregedor moral da pátria. Ali caiu a máscara. O PT a vida inteira deblaterou contra os adversários, mas “blatterou” a prática política padrão Fifa. O PT impôs ao País o padrão Fifa de corrupção.
Dirceu era cotado para suceder Lula. Acha que mudou a história do País?
Dirceu saiu da fila. Se fosse ele o presidente, nós já estaríamos vivendo aqui a Venezuela. A Dilma é o Maduro (risos). O Chávez é o Dirceu. Com ele, teria cerceamento das liberdades democráticas, perseguição à imprensa livre, cadeia para opositor. Não ia ter papel higiênico.
Você foi condenado por ter recebido 4 milhões de reais do PT. O que fez com esse dinheiro?
Foi gasto nas eleições municipais do PTB em 2004, em campanhas de prefeito em RJ, MG e SP. Isso ficou no passado. O partido no poder é que tem dinheiro para fazer eleição. O pequeno não tem, recebe repasse do grande.
Quem fez acordo no PT?
O Dirceu, na Casa Civil. Fechamos ali naquele prédio da Varig [em Brasília]. Financiamento de 20 milhões de reais à eleição do PTB, em cinco parcelas de 4 milhões de reais. Esse acordo não foi cumprido, só foi paga a primeira parcela. Foi um desastre para o PTB.
Há quem creia ser esse o verdadeiro motivo de sua briga com Dirceu e o PT.
Se mamãe não acreditou que a estante caiu em mim [quando apareceu na CPI dos Correios com um olho roxo], não quero convencer ninguém. É minha versão. Quem não crê, paciência.
Depois de cassado e preso, se arrepende por ter denunciado o mensalão?
Sabia o que ia acontecer e estava preparado. Não tenho nenhum arrependimento. Zero. Só não gostaria de fazer de novo, de sofrer isso tudo outra vez. (Folhapress)