Sexta-feira, 13 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 10 de junho de 2025
O ex-comandante da Marinha brigadeiro Almir Garnier Santos negou à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, nesta terça-feira (10), que o desfile de blindados em 10 de agosto de 2021 tenha sido para pressionar a Câmara dos Deputados (leia mais abaixo).
O ato, fora da agenda oficial do então presidente, ocorreu no dia em que parlamentares decidiriam o destino da PEC do voto impresso. Segundo Garnier, tratou-se de uma coincidência.
“No dia que seria votada a emenda constitucional do voto impresso, no dia em que seria votado, houve uma novidade. O senhor foi à Marinha, foi entregar um convite ao presidente da República com três blindados […]. Foi coincidência?”, perguntou Moraes.
“Todos os anos na cidade de Formosa [Goiás] a Marinha realiza uma operação. Esse planejamento logístico leva meses de antecedências, porque esses blindados eles vem do Rio de Janeiro. […] Ao assumir o comando em abril, eu falei ‘olha vamos fazer uma visitação pública com esses veículos aqui na Esplanada. Todo mundo pode ver. Contudo, isso não foi programado para o dia da votação no Congresso”, afirmou Garnier.
“O que eu tenho impressão é de que essa votação seria feita em uma comissão especial. O presidente da Câmara decidiu levar ao plenário e marcou para a data em que já estava marcado todo esse deslocamento. A Câmara alternou isso com cinco dias de antecedência. Neste caso em particular, foi uma coincidência”, prosseguiu o ex-comandante.
Desfile de blindados
Em 10 de agosto de 2021, o desfile de blindados militares provocou críticas e gerou constrangimento, tendo repercussão, inclusive, na imprensa internacional. O ato não estava na agenda.
O comboio saiu do Grupamento de Fuzileiros Navais rumo à Esplanada dos Ministérios. Percorreu 4,5 quilômetros. Pelo menos 14 ministros do governo estavam presentes na ocasião, além de parlamentares.
Um militar subiu a rampa e entregou ao presidente um convite para assistir à “Demonstração Operativa da Operação Formosa 2021”, que, na ocasião, estava programada para 16 de agosto.
Bolsonaro permaneceu na rampa por cinco minutos, até a entrega do convite, e mais sete minutos até o fim da passagem do comboio.
Em frente ao Planalto, alguns apoiadores de Jair Bolsonaro pediam intervenção militar, numa afronta à Constituição brasileira.
Em que fase está o julgamento?
Os depoimentos marcam a reta final da instrução processual — fase em que são reunidas provas para embasar o julgamento. É nesse momento que os réus têm a chance de responder às acusações e apresentar suas versões dos fatos.
Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo integra o “núcleo crucial” da organização criminosa que atuou para tentar romper a ordem democrática. Entre os réus está o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Concluída a fase de interrogatórios, o processo segue para uma etapa de diligências, caso sejam solicitadas por defesa ou acusação. Depois, será aberto o prazo de 15 dias para apresentação das alegações finais, antes de o caso ser levado a julgamento na Primeira Turma do STF.
Primeiro dia de depoimentos
O interrogatório começou com Mauro Cid, que fechou acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal. Ele confirmou a veracidade da denúncia da PGR e declarou: “Presenciei grande parte dos fatos, mas não participei deles”.
Cid negou ter sido coagido e reafirmou o conteúdo de seus depoimentos anteriores. Segundo ele, Bolsonaro teve acesso e sugeriu mudanças à chamada “minuta do golpe” — documento com medidas autoritárias para reverter o resultado das eleições de 2022.
Ainda de acordo com o militar, Bolsonaro pediu a retirada do trecho que previa a prisão de autoridades, mas manteve o item que determinava a detenção do ministro Alexandre de Moraes. Cid também afirmou que o então presidente pressionou o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, por um relatório crítico às urnas eletrônicas.
Questionado por Moraes, Cid confirmou que Bolsonaro queria um texto “duro” contra o sistema de votação.
O segundo a ser ouvido foi o deputado Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin. Ele disse que o documento em que questiona o resultado das eleições era apenas um rascunho pessoal e não foi entregue a Bolsonaro. Também negou envolvimento na disseminação de desinformação e rechaçou ter usado a Abin para monitorar autoridades:
“Decerto que não fiz monitoramento de autoridades”, afirmou.