Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 3 de setembro de 2023
Alvejado pela Operação Lava-Jato e por denúncias de corrupção no caso JBS, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) ressurgiu na cena política com uma barba grisalha e forte discurso contra o governo Lula depois da sentença que o absolveu das acusações. Em seu gabinete da Câmara, onde desponta uma imagem de São Francisco de Assis na parede, Aécio disse que o PSDB, apesar de “destroçado”, precisa se apresentar desde já como alternativa de poder nas próximas eleições. “Tentaram nos matar, mas não conseguiram. Estamos vivos”, afirmou.
Para ele, é preciso endurecer o discurso oposicionista. “Não dá para ficar nesse nemnem, que ninguém sabe o que é”, afirmou Aécio ao Estadão, numa referência à retórica daqueles que não querem nem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem Jair Bolsonaro (PL). Em meados deste mês, o partido vai criar um núcleo de acompanhamento dos programas lançados no terceiro mandato de Lula. Segundo o tucano, Lula governa hoje “muito mais com olhar no retrovisor do que no para-brisa da história”.
Confira os principais pontos da entrevista com o parlamentar:
1. Como o sr. se sentiu sendo acusado de corrupto? Foi muito dolorido na vida política e pessoal. Depois de vários episódios veio Bolsonaro, com o atraso que significou para o Brasil, e agora o retorno do PT. Dois mil e quatorze foi um momento de inflexão. O resultado daquela eleição mudou a história do Brasil, que de virtuosa passou a ser dramática. Eu não me curvei. Fui abatido por denúncias infames e hoje me sinto mais leve para ajudar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que é nossa potencial alternativa presidencial em 2026, a dizer para o Brasil que existe possibilidade de termos um projeto diferente desses dois que estão colocados hoje.
2. O ex-chanceler Aloysio Nunes disse ao ‘Estadão’ que o PSDB não serve mais nem para oposição. Concorda? O PSDB foi destroçado. O João Doria (ex-governador de São Paulo) foi um tsunami na vida do PSDB. Estamos vivendo as consequências daquilo. Ele até pode, na sua ingenuidade política, ter achado que seria candidato à Presidência, mas nunca seria. Ele estava, na verdade, impedindo que o PSDB tivesse candidatura. Por uma razão simples: a candidatura presidencial dele inviabilizaria a do vice-governador Rodrigo Garcia em São Paulo. Qual a consequência disso? O PSDB deixou de ser alternativa.
Mas o sr. também contribuiu para a derrocada do partido ao ser atingido por denúncias de corrupção. O sr. era presidente do PSDB. Todas elas se mostraram falsas e foram desmascaradas.
3. O sr. disse que Lula deveria reparar o Brasil dos prejuízos causados pelo governo Dilma, em vez de pedir reparação pelo impeachment. Por quê?
Quando fala em reparação, ele passa para a sociedade a péssima sinalização de que malfeitos cometidos pelos seus são desculpáveis. O governo Dilma foi trágico. Ela cometeu, sim, as pedaladas fiscais. Ela não foi cassada pela oposição. Foi cassada, principalmente, por sua própria base de apoio.
4. Como não? Eu não pedi recontagem de votos. A auditoria era a favor da credibilidade das urnas eletrônicas porque, no momento em que se chegasse à conclusão de que elas são infalíveis, estaria sanado esse problema. Mas a conclusão foi a de que elas não são auditáveis.
5. O sr. desconfia das urnas? Nada. Mas que existem questionamentos, existem. Agora, a discussão está contaminada. Se questionar, você é bolsonarista.
6. Aliás, o que se dizia é que o sr. era bolsonarista. “O fato de você não ser petista e não apoiar o PT o fazia imediatamente ser tachado de bolsonarista. O PSDB pagou um preço muito alto, por não ser uma coisa nem outra. O nosso papel na política brasileira não pode ser medido pelo número de parlamentares ou de prefeitos. É pelo segmento de pensamento que a gente representa. Existe uma larga avenida no centro que o PSDB tem que liderar.”
7. Mas essa avenida não está congestionada? Não. O PT é hoje partido de centro-esquerda, pragmático. Na direita, você tem um extrato mais radicalizado, e esse grupo vai ser sempre representado pelo bolsonarismo. Eu defendo que o PSDB seja oposição sem adjetivos. “Ah, ‘oposição responsável’, ‘oposição light’.” Não. É oposição que questiona os equívocos do governo. Nós temos que dizer: “Existe alternativa ao lulopetismo que não é o radicalismo da extrema direita”.
8. Mas há outros nomes de centro e de direita para 2026, além de Eduardo Leite. O governador de Minas, Romeu Zema, e o do Paraná, Ratinho Jr. Eu acho que essas forças tenderão a se encontrar. E vai ser candidato quem tiver maior viabilidade. Temos de buscar liderar um caminho ao centro.