Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de novembro de 2025
As suspeitas envolvem uma empresa que recebeu cerca de R$ 70 milhões para fornecimento de kits e livros escolares
Foto: Marcelo Camargo/Agência BrasilUma investigação da Polícia Federal (PF) apontou indícios que uma ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva atuou em Brasília para a liberação de recursos do Ministério da Educação (MEC) para uma empresa investigada por suspeitas de fraudes em licitações e desvios de recursos públicos. A PF ainda diz que o empresário Kalil Bittar, ex-sócio de um dos filhos de Lula, também atuou para a mesma empresa.
Por causa disso, a PF cumpriu busca e apreensão nesta quarta-feira (12), nos endereços de Carla Ariane Trindade e de Kalil Bittar. Carla Ariane foi casada com Marcos Cláudio Lula da Silva, que é filho da ex-primeira-dama Marisa Letícia. Kalil é irmão de Fernando Bittar, um dos dois donos do sítio de Atibaia que foi objeto de investigação na Lava Jato. Kalil também foi um dos sócios de Fábio Luiz, o Lulinha, na empresa Gamecorp.
A defesa de Carla Trindade informou que já solicitou acesso aos autos e somente irá se manifestar após o conhecimento integral da investigação. A Operação Coffee Break foi autorizada pela 1ª Vara Federal de Campinas, que determinou a apreensão dos passaportes deles.
As suspeitas envolvem a empresa Life Tecnologia Educacional, que recebeu cerca de R$ 70 milhões para fornecimento de kits e livros escolares para três prefeituras do interior de São Paulo. Segundo a PF, o material vendido era superfaturado e os valores eram desviados para empresas de fachada. A empresa foi procurada, mas não se manifestou.
A investigação apontou que o dono da empresa, André Mariano, contratou Carla Ariane e Kalil Bittar para obter vantagens junto ao governo federal. Na agenda de Mariano apreendida pela PF, o nome dela estava acompanhado da alcunha “Nora”, uma referência ao seu antigo parentesco com Lula. André Mariano foi alvo de mandado de prisão na operação desta quarta. Na decisão, a 1ª Vara Federal de Campinas diz que os indícios apresentados pela PF mostram que Carla atuou no governo federal em defesa dos interesses privados do empresário investigado.
“Afirma a autoridade policial que as evidências demonstram que Carla parece ter, ou alega ter, influência em decisões do Governo Federal, notadamente no FNDE, bem como nos municípios de Mauá/SP, Diadema/SP, Campinas/SP, entre outros. Que, ao menos duas vezes, Carla teria ido a Brasília com passagens custeadas por André Mariano e que a dinâmica dos agendamentos, muitas vezes corroborados por outros arquivos, demonstra que Carla defende os interesses privados de Mariano junto a órgãos públicos, principalmente na busca por recursos e contratos”, diz a decisão.
A investigação identificou que Carla fez viagens a Brasília acompanhado de André Mariano. Na mesma data de um desses deslocamentos, Mariano tinha agendado uma reunião no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão vinculado ao MEC que liberaria recursos para os contratos de sua empresa. A PF também encontrou anotações no celular de Mariano vinculando Carla Ariane a uma possível atuação no FNDE.
O inquérito pediu a quebra do sigilo das comunicações de Carla Ariane para buscar identificar se ela efetivamente conseguiu obter favorecimentos à empresa junto ao governo federal.
A PF diz ainda que André Mariano pagava uma “mesada” a Kalil em troca da defesa dos seus interesses no governo Lula após a eleição do presidente em 2022. Essa informação apurada pelos investigadores se baseia nas anotações, conversas do telefone celular e quebra do sigilo bancário. A investigação diz que Kalil atuou para prospectar novos negócios para a empresa.
“Em 28/11/2022, já após o segundo turno das eleições presidenciais de 2022 (30 de outubro de 2022), fica claro que Mariano passa a apostar abertamente na maior influência de Kalil em ‘novos ministérios’, ‘MEC’, ‘estados do PT’, dentre outros. É no mesmo período que Mariano passa a pagar uma ‘mesada’ para Kalil, por vezes utilizando a conta bancária da esposa/companheira deste último”, diz a PF. (Com informações do jornal O Estado de S. Paulo)