Sábado, 10 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 13 de junho de 2015
Ex-presidente e atual vice-presidente afastado da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin escondeu do BC (Banco Central) a propriedade de um apartamento de luxo em Nova York (Estados Unidos) e usou uma empresa em paraíso fiscal para isso.
Informações e documentos obtidos pelo UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, mostram que ele detém o imóvel desde 1989 e o frequenta habitualmente, mas sua declaração à Justiça Eleitoral como candidato em 2002, que deve incluir todos os bens listados ao Fisco, ignora a existência do apartamento.
Marin está preso na Suíça desde o fim do mês passado, acusado de ter recebido propinas em negociações de contratos da Copa América e Copa do Brasil. Ele ficou com pelo menos parte dos 63 milhões de reais pagos irregularmente a empresas de marketing por direitos comerciais dessas competições. O dado consta em documentos divulgados pelo Departamento de Justiça norte-americano.
Durante sua carreira como político e dirigente esportivo, o ex-presidente da CBF construiu patrimônio considerável. Em 2002, quando foi candidato a senador por São Paulo, esse patrimônio valia 4,4 milhões de reais, segundo sua declaração à Justiça Eleitoral.
Corrigido pela inflação, o montante hoje seria de 10 milhões de reais. Só que se sabe que isso está longe de representar todos os bens familiares, visto que sua mulher e seu filho também têm posse de imóveis no Estado de São Paulo.
Além disso, Marin tem bens que ele não revelou a ninguém. Entre eles, está o apartamento no 41° andar na Trump Tower, prédio construído pelo famoso empresário do ramo imobiliário norte-americano Donald Trump. Inaugurado em 1983, o edifício tem 68 andares divididos em uma área para restaurantes e lojas, outra para escritórios e um condomínio residencial. Cada apartamento desse condomínio vale ao menos 2,5 milhões de dólares (cerca de 8 milhões de reais no câmbio atual), segundo sites de imobiliárias norte-americanas.
Esse é o valor de um imóvel colocado à venda e que tem 101 metros quadrados, um único quarto e um único banheiro. Exatamente como é o de Marin.
Funcionários do prédio ouvidos pelo UOL informaram que a unidade 41-D pertence ao cartola. Esse apartamento é propriedade da empresa Swanfield Ltd. desde 1989, quando foi comprado por 900 mil dólares, de acordo com o registro de imóveis da cidade de Nova York.
A companhia tem sede nas Ilhas Virgens Britânicas, território considerado um paraíso fiscal. Documentos obtidos pela reportagem mostram que o presidente da Swanfield é José Maria Marin, residente em São Paulo.
Há uma assinatura dele, igual à usada em documentos da CBF, que dá procuração ao advogado David Spencer para executar a compra do apartamento da empresa Eagle Envelope Co. A companhia era a proprietária anterior do imóvel.
Desde então, o apartamento não foi vendido e continua a pertencer à Swanfield. O UOL confirmou, com funcionários do prédio, que Marin e sua família frequentam habitualmente o imóvel e recebem correspondências. Há também uma reforma em curso no local.
A Trump Tower fica na 5 Avenida, bem perto do Central Park. A joalheira Tiffany e a marca de luxo Gucci, por exemplo, ficam no térreo do edifício. A poucos metros, estão Louis Vuitton, Armani, Prada, a famosa loja de brinquedos F.A.O Schwartz e a loja da Apple.
A lista dos donos dos imóveis da Trump Tower não é divulgada por corretores e funcionários do prédio. Sabe-se que o ex-secretário-geral da Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e do Caribe) e delator do esquema de corrupção no futebol Charles “Chuck” Blazer também morou no edifício. Blazer viveu no 49° andar até o escândalo de corrupção estourar. Gastava 18 mil dólares (quase 60 mil reais por mês) em aluguéis de pelo menos dois apartamentos do prédio. Desse valor, metade era pago diretamente pela Concacaf.
Confisco
Como Marin é acusado nos Estados Unidos de crimes de fraude e corrupção, a Justiça norte-americana pode confiscar o apartamento caso a posse seja confirmada. Em sua denúncia, o Departamento de Justiça dos EUA demonstrou em vários momentos saber que Marin tem residência em Nova York, mas o imóvel não foi listado como sendo dele.
O Departamento de Justiça informou que tentará tomar quaisquer bens necessários para ressarcir lesados no caso de quem se beneficiou de propinas na investigação do FBI (polícia federal norte-americana). Réu confesso, o empresário José Hawilla já se comprometeu a pagar quase 500 milhões de reais em ressarcimento. Outros acusados já tiveram suas propriedades nos EUA listadas no processo.
No Brasil, Marin deveria ter declarado o apartamento ao BC. Bens não listados são passíveis de multa, e o proprietário ainda pode responder por evasão de divisas se não explicar como o dinheiro foi parar fora do País. (Folhapress)