Sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de janeiro de 2020
O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, aceitou a denúncia contra o ex-presidente paraguaio Horacio Cartes por organização criminosa. Ele foi acusado na operação Patrón, desdobramento da Operação Lava-Jato fluminense. Com isso, ele se torna réu no Brasil.
A suspeita é que ele tenha ajudado na fuga de Darío Messer, o “doleiro dos doleiros”. Messer está preso desde o fim de julho e também se tornou réu neste processo.
De acordo com a investigação, Messer mandou uma carta ao ex-presidente do Paraguai pedindo 500 mil dólares para cobrir gastos jurídicos, quando ainda estava foragido.
A operação, batizada de Patrón, é um desdobramento da Câmbio Desligo. Em espanhol, a palavra significa “patrão” e é o termo reverencial com que Messer se referia a Cartes.
Ex-presidente foi eleito senador
Cartes pede ao Ministério Público paraguaio para ser investigado naquele país. Ele não chegou a ser preso por não estar no Brasil, mas pediu um habeas corpus ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). O pedido foi negado.
Cartes foi eleito senador, mas não assumiu o cargo. Além disso, ex-presidentes paraguaios têm direito a um título de senador vitalício. Por isso, há dúvidas se ele teria direito a foro privilegiado.
São réus: Roque Fabiano Silveira, Najun Azario Flato Turner, Maria Leticia Bobeda Andrada, José Fermin Valdez Gonzalez, Felipe Cogorno Alvarez, Arleir Francisco Bellieny, Alcione Maria Mello de Oliveira Athayde, Edgar Ceferino Aranda Franco, Valter Pereira Lima, Roland Pascal Gerbauld,
Myra de Oliveira Athayde, Lucas Lucio Mereles Paredes, Jorge Alberto Ojeda Segovia, Filipe Arges Cursage, Cecy Mendes Goncalves da Mota, Antonio Joaquim da Mota e Luiz Carlos de Andrade Fonseca.
Os denunciados são de três nacionalidades diferentes: 11 brasileiros, sete paraguaios e um uruguaio. Eles são acusados de operar esquemas ilegais desde pelo menos os anos 2000 e responderão por pertencimento a organização criminosa. Pesam ainda contra a maioria dos réus, conforme o envolvimento de cada um nas ações ilícitas narradas pelo MPF, acusações de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e câmbio ilegal.
Núcleos
Conforme a denúncia, além de Cartes, faziam parte do núcleo político da organização Roque Silveira, Felipe Cogorno Álvarez, Antonio da Mota, Cecy da Mota e Maria Letícia Bobeda Andrada. No grupo operacional, estavam Arleir Bellieny, Filipe Arges Cursage, Alcione Athayde e a namorada de Messer, Myra de Oliveira Athayde. Esse quarteto é acusado de auxiliar no transporte e recebimento de recursos ocultos.
Por fim, o núcleo financeiro era composto por doleiros de conança de Messer no Paraguai e no Brasil, que lhe davam suporte para operar o câmbio ilegal. São eles: Najun Turner, Luiz Carlos Fonseca, Valter Pereira Lima, Lucas Mereles, Jorge Alberto Segovia, Edgar Ceferino Franco, José Fermin Gonzales e Roland Pascal Gerbauld.
“Duas lideranças nesse núcleo eram o uruguaio Najun Turner, que movimentou mais de US$ 14,6 milhões pela rede de Messer entre 2011 e 2017, e o paraguaio Lucas Paredes, cujas transações movimentaram quase US$ 20 milhões nesse período. O câmbio ilegal, a evasão de divisas e a lavagem de dinheiro envolviam depósitos ocultos de dólares no exterior e a entrega de reais no Brasil”, armou o MPF em dezembro, quando apresentou a denúncia.
Entre os elementos que embasaram a denúncia do MPF estão os relatos apresentados por Vinicius Claret e Cláudio Barboza em acordos de colaboração com a Justiça. Conhecidos respectivamente como Juca Bala e Tony, ambos também são apontados como doleiros da organização e seriam os responsáveis por operações de interesse do ex-governador Sérgio Cabral.