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Geral Expressar-se de forma vaga é um jeito de dizer coisas falsas, disse o detentor do Prêmio Nobel de Economia

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Antes de ganhar o Nobel, Paul Romer renunciou ao cargo de economista-chefe do Banco Mundial. (Foto: Reprodução)

Paul Romer teve um ano e tanto em 2018. Em janeiro, renunciou ao cargo de economista-chefe do Banco Mundial após uma série de atritos com a instituição. Ele saiu dias depois de dar uma entrevista incendiária ao The Wall Street Journal, na qual sugeriu que o banco teve motivações políticas ao rebaixar o Chile, à época sob guarda da socialista Michelle Bachelet, no ranking de competitividade de nações para negócios.

Mas as fricções entre os dois lados começaram antes, quando Romer teve problemas com o tipo de escrita usado pela instituição que empresta dinheiro para países em desenvolvimento.

“A razão pela qual fui tão crítico sobre a escrita vaga é por ver ali um jeito de pessoas dizerem coisas que não eram verdade”, disse à Folha de S.Paulo na quarta (21), após dar uma palestra no 1º Prêmio CBMM de Ciência e Tecnologia, no Rio.

Fato é que, no mesmo ano em que deixou o Banco Mundial após apenas 15 meses, o professor da Universidade de Nova York e autoproclamado nerd descobriu que ganhou a maior láurea em seu campo. Naquela manhã, acordou a então namorada, uma professora de literatura francesa na Universidade Columbia, e sussurrou: “Querida, então, acabei de ganhar o Nobel de Economia”.

Dois dias depois, 10 de outubro, casou e aceitou o prêmio.

1) Após sua passagem no Banco Mundial, o sr. deu a entender que a instituição poderia ser ideológica em algum grau e também criticou a linguagem dela.

Não diria que é ideológico. O Banco Mundial tem uma função diplomática, e quando se engaja na diplomacia, às vezes gosta-se de ser vago, às vezes gosta-se de convergir numa ficção conveniente. É assim que a diplomacia funciona, mas não a ciência. A fricção que tive com o banco foi esta: quando você dá uma declaração sobre um fato, tem que fazê-lo de forma clara e tem que ser verdade. A razão pela qual fui tão crítico sobre a escrita vaga é por ver ali um jeito de pessoas dizerem coisas que não eram verdade.

2) Algum exemplo?

Olha a linguagem que advogados usam o tempo todo. Pode sugerir algo, mas se for vago o bastante, se alguém o desafia, pode escapar disso. Insistia que algumas questões tinham como resposta sim ou não, falso ou verdadeiro. Não dá para usar um monte de palavras para esconder algo. É apenas fraude.

3) A ascensão de populistas como Donald Trump e Jair Bolsonaro, com auxiliares que até negam o aquecimento global ou defendem o terraplanismo, pode ser um freio na economia?

Uma das minhas mensagens é que verdade e honestidade são muito importantes, coisas nas quais precisamos investir. Mas, se a comunidade científica descobre que as pessoas não confiam nela, é parcialmente nosso trabalho reconstruir essa confiança. Em vez de apenas ficar com raiva ou criticar quem nos critica, precisamos nos perguntar: o que devemos fazer para ganhar de volta o apreço dessa gente? Porque, se você parar para pensar, há muitas pessoas que  não confiam nos cientistas quando dizemos que as vacinas protegem suas crianças. Essa desconfiança não é algo que podemos simplesmente pôr na conta de alguns líderes. Precisamos trabalhar mais para persuadir as pessoas.

4) E por que tantos perderam a confiança na ciência?

Não acho que sabemos. Às vezes as pessoas sentiram como se não estivéssemos contando a verdade, mas algo que as faria fazer algo que gostaríamos que elas fizessem. Preocupavam-se que estivéssemos tentando as manipular para atingir alguma meta.

5) Há uma visão parecida com a mídia, vista com ceticismo por muita gente.

É interessante. Alguns dos novos veículos de mídia no mundo digital não estão ajudando. Quero proteger minha reputação. Se alguém puder dizer algo online, e eu não sei quem é, essa pessoa é livre para inventar, não tem uma reputação, é apenas anônima. Esse mundo do anonimato não é bom.

6) O sr. critica quem defende que, para proteger o meio ambiente, é preciso parar de crescer economicamente. Qual a receita?

Crescimento pode significar expandir em valores, não quer dizer ter mais energia, material, objetos. Seu celular pode tocar música agora com muito menos eletricidade do que o amplificador que meu pai usava. Como crescer sem machucar a natureza? Economistas têm alguns palpites. Precisamos taxar o que a prejudica. Criar incentivos para usar tecnologias limpas. Dá para não destruir o meio ambiente e ter vidas mais satisfatórias.

tags: economia

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