Notícias Familiares a amigos se despedem do costureiro Rui Spohr, primeiro gaúcho a obter destaque na moda
Por Redação O Sul | 30 de abril de 2019
Um dos ícones da moda no Rio Grande do Sul e referência de elegância para diversas gerações, o costureiro gaúcho Rui Spohr faleceu na madrugada dessa terça-feira em Porto Alegre, aos 89 anos. Ele sofria do mal-de-parkinson e estava internado desde a quinta-feira passada no Hospital Mãe de Deus, onde não resistiu a uma broncopneumonia.
Dezenas de pessoas compareceram ao velório, realizado entre meio-dia e 17h na Sala de Exposições do Theatro São Pedro. Já a cerimônia de cremação, no Memorial Angelus, foi reservada à familiares e amigos mais próximos. Nascido em Novo Hamburgo, Rui (cujo nome de batismo é Flávio Hennemann Spohr) deixou a esposa Dóris, a filha Maria Paula e a neta Antônia.
Trajetória
É impossível falar em moda no Brasil sem o nome de Rui Spohr. Considerado o primeiro brasileiro a estudar moda na França (em 1952), ele assumiu com apenas 22 anos de idade o nome artístico que se tornaria não apenas uma marca, mas também um sinônimo de elegância. Em Paris, também acompanhou de perto as trajetórias iniciais de homens-grife como Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld.
Aos longos dos anos, criou vestidos, chapéus e outras peças exclusivas para personalidades como a cantora Elis Regina, a ex-miss Universo Ieda Maria Vargas (cujo vestido de noiva tinha a assinatura de Rui) e mulheres da alta sociedade gaúcha, o que se evidenciava em sobrenomes imponentes como Chaves Barcelos e Gerdau Johannpeter.
Coube a Rui Spohr, ainda, a “descoberta” da gaúcha Lílian Lemmertz (1937-1986), que convidou a desfilar como modelo para o seu atelier após vê-la caminhando pela Rua da Praia. Tempos depois, ela conquistaria o estrelato como atriz de cinema, teatro e TV.
Em 2016, ao completar 60 anos de carreira, a Câmara de Vereadores lhe concedeu o título de “Cidadão de Porto Alegre”. No ano seguinte, ele foi empossado como um dos imortais da ABM (Acadêmia Brasileira de Moda), ao lado de nomes importantes como a estilista Zuzu Angel (1921-1976).
Desde então, o costureiro vinha se dedicando ao Instituto Rui Spohr, destinado a preservar e compartilhar o seu legado. A entidade, instalada em uma casa na rua Miguel Tostes (bairro Rio Branco), mantém um acervo com pelo menos 200 vestidos, 250 chapéus, 2,5 mil desenhos e mil fotografias, além de promover cursos e outras atividades.
Testemunho
O estilista e ex-comunicador da TV Pampa Jones Machado conviveu com Rui, responsável por sua primeira oportunidade profissional na área da moda, em uma parceria iniciada em 1984. “Ele foi o meu grande mestre e sempre acolheu quem batia à sua porta, buscando aprender”, emociona-se.
Mesmo com Jones morando em São Paulo e Rui em Porto Alegre, ambos estavam trabalhando em uma coleção. Jones relata que os encontros eram marcados pela alegria: “Ele era uma enciclopédia, ele é maior nome da moda no Rio Grande do Sul, seu legado é indiscutível.”
Mensagem
Na página de Rui no Facebook, o instituto que leva o seu nome postou um texto enaltecendo a trajetória do costureiro. “Rui dedicou mais de seis décadas à moda. O que aprendeu na França foi colocado em prática em Porto Alegre. Doris, sua primeira assistente, tornou-se sua esposa e juntos viraram referência. Vestiu misses, primeiras-damas, inúmeras noivas e debutantes”, diz um trecho.
“Ele compartilhou seus ensinamentos na televisão, no rádio, nas páginas dos jornais e entre os inúmeros aprendizes que passaram por seu atelier (…). Foi um professor: fez moda e ensinou a vestir. Passa a ocupar o espaço da memória- onde ficam os afetos- como o mais importante costureiro gaúcho que, ao inscrever sua carreira na história da moda do Brasi,l levou consigo Porto Alegre”, finaliza.
(Marcello Campos)
