Segunda-feira, 26 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2018
Documentos do Departamento de Justiça dos Estados Unidos sugerem que familiares do presidente venezuelano Nicolás Maduro e a elite do governo chavista embolsaram milhões de dólares com um esquema ilícito.
Por meio da lavagem de dinheiro no mercado negro do câmbio venezuelano e do uso da estatal petrolífera PDVSA, enteados do líder do país e funcionários de alto escalão teriam desviado cerca de US$ 1,2 bilhão. O dinheiro, dizem as autoridades norte-americanas, foi depositado em um banco suíço – destino ainda comum para os dividendos oriundos de corrupção.
O ex-banqueiro Matthias Krull, preso em julho deste ano, fechou um acordo de delação premiada com o órgão dos Estados Unidos. Além de confessar o crime, ele entregou que enteados de Maduro estavam entre os seus clientes no banco Julius Bär.
O esquema funcionava graças à existência das duas taxas de câmbios na Venezuela. Vendia-se dólar na cotação do mercado paralelo e usava-se esses bolívares para recomprar a moeda norte-americana na cotação oficial, subornando funcionários públicos.
“Em 2014, por exemplo, um indivíduo poderia trocar US$ 10 milhões [cerca de R$ 41 milhões, no câmbio atual brasileiro] por 600 milhões de bolívares na taxa econômica real”, diz o texto de indiciamento do banco Julius Bär.
“Se aquele indivíduo tivesse acesso às taxas fixas do governo, poderia converter os mesmos 600 milhões de bolívares em US$ 100 milhões [R$ 410 milhões]”, frisaram os norte-americanos. “Essencialmente, em duas transações, aquela pessoa poderia comprar US$ 100 milhões por US$ 10 milhões”, explicou.
De acordo com a promotoria de Washington, uma grande parte do esquema de câmbio ocorria dentro da estatal venezuelana Petróleos de Venezuela. “A PDVSA é uma fonte primária de recursos e de moeda estrangeira (em especial dólares e euros) usada para financiar um esquema corrupto de enriquecimento de câmbio.”
Controle cambial
O controle cambial foi adotado em 2003 por Hugo Chávez e só foi desfeito na semana passada. Segundo analistas, tal sistema aumentou as distorções no país, tornando os produtos com preço atrelado ao dólar inacessíveis à maior parte da população.
Esse segmento de venezuelanos, sem salário ligado à moeda americana e sem acesso a remessas do exterior, depende essencialmente de subsídios estatais que tornaram-se insustentáveis. O dinheiro desviado seria quatro vezes superior ao que a ONU (Organização das Nações Unidas) pede para atender aos refugiados venezuelanos em oito países da América Latina.
A investigação cita o caso, no qual um funcionário do governo recebeu 227 milhões de euros (R$ 1,084 bilhão) e enviou 159 milhões de euros (R$ 759 milhões) aos três enteados de Maduro. Outros € 78 milhões (R$ 372 milhões) seguiram para nomes como Francisco Convit, Carmelo Aqui e Abraham Prtega, dentre outros.
As investigações ocorrem nos Estados Unidos, em colaboração com o governo da Suíça. O ex-banqueiro declarou que, em sua posição, ele costumava atrair clientes privados “especialmente da Venezuela”.