Domingo, 19 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de outubro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Choveu no Atacama.
Sim, choveu no deserto mais seco do mundo. E, depois da chuva, o improvável aconteceu: um tapete de flores cor de rosa cobriu a aridez. A paisagem antes pálida e silenciosa se transformou em um espetáculo de vida. É a natureza lembrando à humanidade que nada é garantido — nem o deserto é sempre seco, nem o solo infértil é incapaz de renascer.
Pensei nisso ao olhar para o Brasil. Vivemos um tempo de estiagem moral, política e econômica. Um país que parece ter secado em esperança (e não por falta de chuva, mas por excesso de cinismo). Sim, o Brasil, hoje, é um deserto moral. Sem princípios, cego aos valores mais importantes de uma sociedade. Um lugar que, veladamente, incentiva a ilegalidade e, ostensivamente, impede o desenvolvimento pessoal de seus cidadãos.
Eu não precisaria elencar todos os últimos fatos que corroboram essa minha afirmação. Afinal, o crime organizado controla um estado paralelo protegido pelas instituições; detentos têm mais direitos que pagadores de impostos; alunos vão à escola não para aprender, mas para comer a sua única refeição do dia. Convenhamos, isso não é aceitável.
Mas ainda pode ficar pior. E fica: o só fato de termos um “descondenado” na presidência já seria suficiente – o cara não foi considerado inocente, lembrem-se. Após ser considerado culpado em três instâncias – TRÊS! – uma nulidade processual o “descondenou”. Nulidade, aliás, bastante questionável, considerando os atuais acontecimentos judiciais no país… Porém, voltaremos a isso daqui a pouco.
Vamos ao presidente Lula, que nunca cansa de “secar a nossa alma”, já que o tema, hoje, é deserto. Pois ele declarou, esta semana, que nunca houve uma composição de tão baixo nível no Congresso Nacional, referindo-se à “extrema direita”.
Ora, quem fala em baixo nível depois de trinta anos de alianças com o que há de mais retrógrado e fisiológico na política? A ironia é tamanha que já nem choca. Banalizamos a mentira. Virou rotina ver o governante que prometeu união alimentar a divisão, e o líder que se dizia “pai dos pobres” se afastar, cada vez mais, da realidade de um povo sufocado. Aliás, cadê a nossa picanha, presidente?
E, como se não bastasse o descaso moral, há o escândalo internacional: denúncias de que o governo brasileiro recebeu recursos do narcotráfico, vindos da Venezuela, mancham a imagem do país e revelam o nível de promiscuidade política que se instalou no poder. Enquanto isso, o crime cresce, a economia estagna, a segurança pública desaba, e a população, acuada, tenta apenas sobreviver entre a inflação e o desânimo.
Isso sem falar na Magnitsky que pende sobre – pasme – nossos ministros da corte constitucional. Sim, o problema não está apenas no Executivo.
O Supremo Tribunal Federal, que deveria ser o guardião da Constituição, tornou-se o principal agente da sua violação. A prisão de Filipe Martins, baseada em um documento falso, e a recente prisão de Jair Bolsonaro em um processo do qual sequer é parte, são exemplos trágicos do colapso do devido processo legal. Não se trata mais de aplicar a lei, mas de escolher quem será o inimigo do dia.
Transformou-se num tribunal político, onde a toga virou símbolo de poder e não de justiça – e vou para de falar sobre isso, porque falo toda-santa-semana e vocês já devem estar cansados do assunto. Ou da realidade. Nem sei o que é pior.
Até porque… apesar de tudo, o Atacama floresceu. E talvez essa seja a lição mais bonita — e mais necessária — desses tempos áridos. Mesmo quando o poder apodrece, a vida resiste. Mesmo quando tudo parece morto, a verdade encontra um jeito de brotar.
As flores do deserto não nascem por acaso; nascem porque, em algum ponto do tempo, a natureza se recusa a desistir de si mesma.
Assim também é a liberdade: pode ser pisoteada, caluniada, sufocada — mas nunca destruída.
Faltam menos de doze meses para as próximas eleições. E talvez essa seja a nossa chance de fazer florescer esse deserto moral em que, hoje, vivemos. De escolher bem os nossos representantes, de optar pelo amor em vez do ódio, pela construção de pontes em vez da destruição. De fazer brotar a esperança e colorir o nosso país com a incrível diversidade cultural que ele tem — usando essa força para crescer, ser abundante, ser diferente no mundo e, finalmente, voltar a sorrir.
Porque o Brasil ainda pode florescer. E cabe a nós — cidadãos, livres e conscientes — fazer chover. Esse, sim, seria o melhor “plot twist” histórico que poderíamos esperar. Quem sabe?
E a melhor parte é que, diferentemente da chuva no Atacama, que depende das condições meteorológicas e da natureza, o resultado das próximas eleições só depende de…cada brasileiro.
O nosso futuro florido, belo, íntegro, cheio de vida só depende de nós.
Ali Klemt
@ali.klemt
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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