Segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de fevereiro de 2018
Horas depois de ter deixado a cela da Penitenciária Feminina de São Paulo com o bebê no colo, Jessica Monteiro ainda sofria, na manhã deste sábado (17), com a humilhação que passou no 8º Distrito Policial do Brás, para onde foi levada depois de dar à luz. Com o filho no colo, a jovem lembrou das condições que cercaram sua prisão.
“Se eu fosse traficante, viveria no luxo. Me levaram na frente do meu filho de três anos. Jogaram as roupas do meu bebê no chão”, diz ela, que recebeu a reportagem num quartinho de 10 metros quadrados, onde vive com a família dentro de uma ocupação de tijolos azuis carcomidos, beirando a Avenida do Estado.
O Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu um habeas corpus à Jessica, depois da reação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que protocolou o pedido, e de movimentos de direitos humanos.
Enquanto a jovem conversava com a reportagem, um ou outro familiar que mora na vizinhança fazia um afago na cabeça do bebê. Amamentava Enrico, embrenhado em uma manta colorida. Para chegar ao seu quarto, é preciso atravessar um corredor apertado e subir uma escadinha de madeira irregular.
Kauã Samuel, de 3 anos, um de seus filhos, acordou no susto quando a mãe foi levada pela polícia, acusada de tráfico por portar 90 gramas de maconha. Ela nega que estava com a droga. Após ter tido sua prisão domiciliar concedida, Jessica sente medo de ter que voltar à prisão. Já estava com 39 semanas de gravidez quando foi presa em uma cela na delegacia do 8º DP, do Brás.
“Estava tão estressada que entrei em trabalho de parto. Estava em uma cela suja, cheia de barata. Comecei a perder líquido. Meu psicológico ficou muito abalado”, afirma Jessica. A jovem deu à luz Enrico, que hoje tem sete dias, no Hospital Municipal Dr. Ignácio Proença de Gouvêa, na Mooca, na Zona Leste de São Paulo. Dois dias após o parto, voltou à cela no mesmo local, com Enrico nos braços, onde passaram o dia em um colchãozinho de espuma e um cobertor para apaziguar o frio.
“Queriam que eu entregasse o meu bebê para a minha família, mas expliquei que um recém-nascido não pode ficar longe da mãe. O Enrico não tinha que ter passado por nada disso, foi humilhante. Meu maior medo é ficar longe dos meus filhos.”
Segundo ela, Oziel Gomes da Silva, de 48 anos e apontado como seu marido, era um morador na comunidade onde vive. Jefferson de Oliveira, de 22 anos e que trabalha com carreto na região do Brás, apresentou-se como seu companheiro e afirma estar revoltado com o tratamento que ela e o bebê receberam na delegacia. “Nenhum ser humano merece ser tratado dessa forma. Estamos com medo de continuar morando aqui e sofrer perseguição.”