Sexta-feira, 03 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de setembro de 2020
A Lava Jato tratou de mostrar que recursos de instituições como Sesc, Senac e Fecomércio do Rio de Janeiro vêm sendo geridos de maneira duvidosa nos últimos anos. Uma nova fase da operação Lava Jato tornou advogados em réus por envolvimento em um esquema de tráfico de influência que, segundo o Ministério Público Federal (MPF), desviou R$ 151 milhões para manter no poder do Sistema S do Rio o empresário Orlando Diniz.
A engrenagem descoberta pela Lava Jato só veio à tona em detalhes graças a um divórcio conturbado. O empresário foi casado com a advogada Daniela Paraíso por oito anos, a quem empregou no Senac com salário de R$ 40 mil. Os dois se separaram após a desconfiança de Diniz de que sua então mulher estava tendo um caso extraconjugal com um advogado. Em janeiro de 2015, o empresário tentou agredir o homem que considerava suspeito em um café na Zona Sul do Rio. Também destruiu com uma tesoura o equivalente a R$ 71 mil em roupas de grife de Daniela.
Os episódios de fúria descritos no processo judicial que tratam do pagamento de pensão alimentícia para a filha do casal incentivaram a ex-mulher do empresário a ajudar a Lava Jato a montar todo o quebra-cabeça dos gastos do Sistema S fluminense. Ela contou sobre todas as movimentações financeiras em dinheiro vivo do ex-marido e o uso de doleiros do esquema de Cabral. “Você na minha vida é uma nuvem negra”, escreveu o magoado empresário no dia dos vestidos rasgados. A nuvem negra que atingiu Diniz e os badalados escritórios de advocacia agora ameaça sobrevoar o Judiciário brasileiro com o desdobramento das investigações.
Na ação do MPF, estão citados como recebedores de recursos para impedir investigações contra Diniz bancas badaladas do noticiário político recente: Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, responsáveis pela defesa do ex-presidente Lula; Frederick Wassef, advogado de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro; Eduardo Martins, filho do presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins; e Ana Tereza Basílio, que atua nos processos do governador afastado Wilson Witzel. Os procuradores afirmam que estes e outros profissionais usavam contratos fictícios e notas fiscais falsas milionárias para simular prestações de serviço em troca de decisões favoráveis em tribunais superiores. Os advogados citados negam as acusações.
Relator
Relator dos processos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Edson Fachin afirmou em relatório enviado ao novo presidente do tribunal, Luiz Fux, que a atuação da operação na corte é pautada pela “legalidade constitucional” e no combate à impunidade. “Os trabalhos são pautados pela legalidade constitucional e vão de encontro à renitente garantia da impunidade que teima em fazer a ‘viagem redonda da corrupção'”, escreve o ministro, em ofício enviado ao presidente do STF com estatísticas dos processos que tramitam na corte relacionados à operação.