Terça-feira, 23 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2018
O general da reserva Hamilton Mourão, que assumirá a Vice-Presidência da República com a posse de Jair Bolsonaro nesta terça (1º), sugere que o novo governo alivie a carga de impostos da indústria brasileira antes de submetê-la à abertura comercial proposta pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ele disse na sexta (28) que a reforma tributária é necessária para reduzir custos das empresas nacionais e ajudá-las a competir com produtos estrangeiros, cujas tarifas de importação serão reduzidas se Guedes levar adiante seus planos.
Mourão abriu a agenda para empresários e dirigentes de associações setoriais durante os preparativos para a posse do novo governo. Encerrada a transição, ficou sem missão definida na estrutura do governo, mas manteve a disposição de atuar como interlocutor do meio empresarial.
Ele afirma ter recrutado especialistas de várias áreas para assessorá-lo no cargo e recorre a um jargão militar para descrever o grupo como um “dispositivo de expectativa” na retaguarda, pronto para entrar em ação se for chamado pelo presidente.
Mourão disse que não está preocupado com o caso do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, amigo da família Bolsonaro cujas transações financeiras despertaram suspeitas e são investigadas pelo Ministério Público do Rio.
Papel no governo
Segundo Mourão, ele conta com uma equipe pronta e capacitada. “À medida que o presidente for necessitando de alguns trabalhos, ele poderá me acionar. É isso que a gente está aguardando acontecer.”
O vice-presidente eleito disse que não iria citar nomes. Mas que trouxe gente do Itamaraty, das Forças Armadas, “gente que veio aí da vida civil normal”.
Relação com empresários
“A turma me procura para apresentar as demandas, necessidades. O que faço é encaminhar para os ministros respectivos para ver o que podem atender. Atuo mais como um facilitador das coisas”, disse Mourão.
De acordo com o general da reserva, não há dificuldade no diálogo com a equipe econômica. “Eles têm conversado com quem de direito. O que ocorre são visões distintas das soluções para os problemas. Aos poucos isso vai se ajustando”, afirmou.
Abertura comercial
Mourão disse que o governo entende perfeitamente que a abertura comercial não pode ser feita na base do choque e que necessita uma graduação, uma segurança maior. “Na minha visão, temos que arrumar a casa primeiro. Depois que arrumar a casa, a gente abre a porta”, explicou.
“Precisa acertar primeiro a questão tributária, que é parcela do custo Brasil. Aí teremos espaço para iniciar uma abertura, e as nossas indústrias poderão ter preço competitivo com as que vêm de fora e que não sofrem esse aperto”, emendou.
Reforma da Previdência
Mourão disse que o governo terá de fazer uma campanha de convencimento dos parlamentares e da população para explicar as mudanças, e que a equipe econômica ainda não apresentou as suas armas. “Quando revelar sua proposta é que a gente vai ver realmente o verdadeiro diálogo. Por enquanto, é só ensaio”, relatou.
Articulação política
Conforme Mourão, a ideia é é cooptar os parlamentares para a necessidade das reformas, mostrando que eles também sairão engrandecidos por fazer parte desse processo.
EUA e China
Sobre a aproximação de Bolsonaro com os Estados Unidos, Mourão disse que as críticas partem de setores conhecidos pelo “antiamericanismo infantil”. “Este governo tem uma visão altamente positiva dos valores da democracia americana. Mas até agora não houve nenhum movimento no sentido de deixar o Brasil pendurado nos EUA”, afirmou.
Cuba, Venezuela e Nicarágua
Mourão diz não ver problema no veto à participação dos três países na posse de Bolsonaro e que “é muito mimimi”. “É um desgaste inútil, uma discussão estéril. Até porque essa turma está devendo para a gente. Estão devendo dinheiro para a gente. São os reis do calote”, disse o vice-presidente eleito.
Fabrício Queiroz
Segundo Mourão o problema agora é da investigação que está sendo feita e para ele é passado. “O presidente disse que fez um empréstimo a ele. Queiroz diz que recebeu e pagou em dez vezes. Para mim, assunto encerrado. Nenhuma preocupação. Se Queiroz tivesse dito que não tinha recebido o empréstimo, aí era problema”, concluiu.