Quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de dezembro de 2025
A descoberta de uma galáxia espiral totalmente formada, datada de quando o Universo tinha apenas 1,5 bilhão de anos, levanta novas questões sobre conceitos fundamentais da cosmologia moderna. Identificada por astrônomos do Centro Nacional de Radioastrofísica da Índia (NCRA-TIFR), a partir de observações do Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla em inglês), a estrutura – batizada de Alaknanda – tem cerca de 12 bilhões de anos e revela um cenário muito mais organizado no cosmos primitivo do que se imaginava.
Segundo o estudo, publicado em novembro na revista Astronomy and Astrophysics, a galáxia tem cerca de 30 mil anos-luz de diâmetro, um terço do tamanho da Via Láctea, e abriga aproximadamente 10 bilhões de estrelas. Para os pesquisadores Rashi Jain e Yogesh Wadadekar, responsáveis pela análise, é surpreendente que uma espiral tão simétrica, com dois braços bem definidos e um núcleo brilhante, tenha se formado tão cedo na história do Universo.
“A galáxia é notavelmente semelhante à Via Láctea, apesar de existir quando o cosmos tinha apenas 10% da idade atual”, afirma Wadadekar. “Ela teve de reunir massas estelares imensas e, ao mesmo tempo, desenvolver um disco espiral em algumas centenas de milhões de anos. Isso é incrivelmente rápido para padrões cosmológicos.”
De acordo com a rede britânica BBC, a estrutura foi identificada por Jain enquanto ela analisava um conjunto de 70 mil objetos captados pelo JWST, lançado em 2021 pelas agências espaciais dos EUA, Europa e Canadá. Entre os milhares de registros, apenas um se revelava uma espiral gigantesca. A pesquisadora conta que ficou “muito entusiasmada” ao notar os braços simétricos e o padrão luminoso característico de galáxias espirais contemporâneas.
A descoberta contrasta com a visão dominante entre astrônomos de que o chamado “alvorecer cósmico” – período logo após o Big Bang – teria sido marcado por galáxias pequenas, irregulares e caóticas. As observações sugerem que o universo primitivo pode ter sido mais eficiente e organizado na formação de estruturas complexas.
“Essa galáxia é uma exceção rara, mas essas exceções abalam nossa compreensão do passado”, afirma Jain. “O Webb tem mostrado que o Universo era muito mais maduro em seus primórdios e que formas sofisticadas surgiram antes do que pensávamos possível.”
As imagens mais antigas do JWST mostravam manchas vermelhas e borrões mas, nos últimos anos, o telescópio tem revelado galáxias espirais completas em períodos cada vez mais remotos. Alaknanda, entretanto, destaca-se pela escala e simetria.
A luz que chega hoje à Terra saiu da galáxia há 12 bilhões de anos, o que significa que seu estado atual permanece desconhecido.
“Quando me perguntam onde ela está hoje, eu digo: esperem mais 12 bilhões de anos para descobrir”, brinca Wadadekar.
Os pesquisadores planejam solicitar novas observações com o próprio James Webb ou com o Observatório Alma, no Chile, para investigar como a galáxia conseguiu desenvolver braços espirais tão cedo. As informações são do jornal O Globo.