Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de agosto de 2020
Primeiro álbum em sete anos da estrela americana de origem cubana Gloria Estefan, “Brazil305” – que chega esta quinta-feira ao streaming – é o resultado de uma longa história de amor que começou ainda na infância. “Saímos de Cuba (em 1959, com a derrubada do ditador Fulgencio Batista pela revolução cubana) apenas com uma mala, e a minha avó foi mandando aos poucos para os Estados Unidos os discos da minha mãe. Entre eles, havia muitos de música brasileira dos anos 1960, que era adorada em Cuba”, conta a cantora de 62 anos, em entrevista por Zoom. “E aos 17 anos, quando eu me juntei à banda (os Miami Latin Boys, depois Miami Sound Machine, ao lado do futuro marido Emilio Estefan Jr.), tive que aprender ‘Garota de Ipanema‘, ‘Mas que nada‘, ‘Desafinado‘ e ‘Corcovado‘. No primeiro álbum do grupo, eu até gravei uma canção de Antonio Carlos & Jocafi, ‘Malvina‘, em espanhol. E em 1982, fizemos ‘Rio‘.”
No LP de 82 da Miami Sound Machine, Gloria cantou em espanhol canções da MPB como o “Todo dia era dia de índio” de Jorge Ben Jor (“Toda tuya”) e o “Dingue-li bangue” de Wilson Simonal (“creio que foi o primeiro rap que eu ouvi!”). Mas “Brazil305” (o número é o código telefônico de Miami, onde mora a cantora, mas também, como ela veio a descobrir depois, a quantidade de etnias indígenas no Brasil) foi algo totalmente novo para ela. Um disco que Gloria fez por sugestão de Afo Verde, argentino que dirigiu o braço brasileiro da gravadora Sony e hoje é CEO da Sony Music Latin.
“Em 2016, Afo me disse: ‘E se você pegasse os seus maiores hits e imaginasse como eles iriam soar caso tivessem nascido no Brasil?‘ Junto, veio a ideia de rodar um documentário sobre as origens do samba (ainda a ser lançado)”, conta a cantora, que regravou com músicos brasileiros e estrangeiros, hits como “I don’t wanna lose you” e “Rhythm is gonna get you”. “As mesmas tribos iorubás foram levadas para Salvador, na Bahia, e para Cuba. As misturas é que definiram as diferenças nos sons. Por isso, talvez, que o samba sempre tenha dito algo para mim.”
Gravando em Salvador, em 2019, Gloria Estefan enfim conheceu pessoalmente o baiano Carlinhos Brown (que acabou tocando percussão na releitura brasileira do hit “Get on your feet”). E o encontro acabou rendendo mais uma faixa para o disco.
“Quando cheguei em casa, eu disse: ‘Conheci o Emilio Estefan brasileiro!‘ Carlinhos tinha uma energia muito parecida como as do meu marido, uma positividade, uma espiritualidade…”, relata Gloria. “Depois, ele me ligou perguntando se eu poderia fazer uma versão de ‘Magalenha‘ (composição de Brown) para o seu álbum. Ele veio a Miami e me fez cantar a canção mais acelerada que eu já cantei! Gostei tanto que, apesar de ela não estar bem dentro do conceito do álbum, resolvi incluí-la.”
Outra canção nativa que Gloria Estefan pôs em “Brazil305” foi “O homem falou”, samba de Gonzaguinha: “Ouvi a gravação da Maria Rita e todas as outras. Tem um negócio na canção que me emociona, ela é um hino de união. E quando escrevi as versões em inglês (‘Only together‘) e espanhol (‘Un nuevo mundo‘) que entraram no disco, fui mais fundo na ideia de união mundial. Já estávamos vivendo dificuldades nos Estados Unidos, toda a divisão, a loucura, e quis gravá-la como um samba mesmo, com as vozes todas se juntando no refrão.”
Respeito à ciência
Fiel à quarentena (chegou a gravar uma paródia de “Get on your feet”, “Put on your mask” — traduzindo, “Ponha sua máscara”), Gloria Estefan diz que falta hoje aos EUA um líder “corajoso o suficiente para tomar decisões, e que siga a ciência”: “Tudo é ciência, não tem nada a ver com tirar liberdades. Todo fazemos coisas que nos tiram a liberdade mas que são para o bem comum, como ter carteiras de motorista para poder dirigir. Todos seguimos regras.” As informações são do jornal O Globo.