Quinta-feira, 29 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 15 de março de 2022
Decisão ocorre após cena do filme '"Como se tornar o pior aluno da escola" viralizar no último fim de semana. Nela, dois meninos são assediados e chantageados por um vilão, interpretado por Fábio Porchat.
Foto: ReproduçãoO Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou que a Netflix e outras plataformas de streaming deixem de exibir o filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, baseado no livro homônimo de Danilo Gentili. Em medida cautelar publicada no Diário Oficial da União desta terça-feira (15), a pasta determina multa diária de R$ 50 mil às plataformas que não retirarem a obra de seus catálogos. Além da Netflix, foram citados na portaria YouTube, Globoplay, Amazon Prime Video e Apple TV.
O Globoplay e o Telecine classificaram como censura a determinação do Ministério da Justiça e Segurança Pública acerca do filme. A plataforma de streaming afirma, por meio de nota, que não irá retirar a obra de seu catálogo, contrariando a medida estabelecida pelo governo.
O filme “Como se tornar o pior aluno da escola” se tornou alvo de críticas nas redes sociais, principalmente por parte de políticos e autoridades ligados ao bolsonarismo, após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP) compartilhar uma cena editada da obra alegando que ela promove a “apologia à pedofilia”.
O trecho em questão mostra um personagem interpretado pelo ator Fábio Porchat tentando convencer dois adolescentes a fazerem sexo com ele. No filme, uma comédia, os menores de idade fogem do homem após o convite, mas essa parte foi cortada do vídeo publicado pelo parlamentar.
Ao jornal Estadão, Porchat afirmou que seu personagem é retratado como o vilão da história e que não há a intenção de estimular a pedofilia. Já Gentili considera estar sofrendo censura por parte do governo federal. Segundo ele, a determinação do Ministério “soa como oportunismo, censura e perseguição”. O humorista afirmou que o movimento nas redes contra a obra, impulsionado por políticos bolsonaristas, serve para “destratar desafetos que possuem opiniões independentes, fazer cortina de fumaça contra problemas reais e engajar a rede deles” em ano eleitoral.
A determinação do Ministério foi comemorada pelo ministro da pasta, Anderson Torres, nas redes sociais. Como justificativa para a medida, consta “necessária proteção à criança e ao adolescente consumerista”. A classificação indicativa do filme é 14 anos, apesar de o livro que deu origem à obra ser recomendado para maiores de idade. A indicação etária foi definida por uma comissão do próprio Ministério da Justiça, em 2017, à época do lançamento nos cinemas, sustentando que a produção tinha um “contexto cômico e caricato”.
Procurada, a Netflix disse que não se manifestaria sobre o caso. A assessoria da plataforma foi acionada novamente após a proibição ao filme, mas ainda não respondeu à reportagem.
Ataques nas redes sociais
“Como se tornar o pior aluno da escola” é baseado no livro de mesmo nome escrito por Danilo Gentili e lançado em 2009. Ele atua e é um dos roteiristas do filme.
No último domingo, quase 5 anos após o lançamento, o filme passou a ser atacada nas redes sociais acusado de estimular a pedofilia.
Gentili e Bolsonaro
Em 2016, sem citar o nome de Bolsonaro, Gentili criticou a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) no episódio em que o então parlamentar disse que ela não merecia ser estuprada.
“Fica aí, Maria do Rosário, fica. Há poucos dias, tu me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui pra ouvir”, disse Bolsonaro em 2014. No ano seguinte, ele foi condenado pela declaração.
“Ai ela chama o cara de estuprador toma empurrão e dá chilique. Falsa e cínica para caraleo”, escreveu Gentili em 2016 no Twitter
No último domingo, após os ataques ao filme, Gentili escreveu: “O maior orgulho que tenho na minha carreira é que consegui desagradar com a mesma intensidade tanto petista quanto bolsonarista. Os chiliques, o falso moralismo e o patrulhamento vieram fortes contra mim dos dois lados. Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu. Sigo rindo”.