Sexta-feira, 05 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de dezembro de 2025
Apesar da conhecida proximidade entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário Joesley Batista, do grupo J&F, o Palácio do Planalto atua nos bastidores para rechaçar a tese de que o executivo brasileiro tenha sido enviado a Caracas, na Venezuela, como emissário do governo petista. As especulações começaram depois que a agência Bloomberg publicou que Batista viajou para o país vizinho, na semana passada, e encontrou-se pessoalmente com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
A suposta reunião entre os dois coincide com a intensificação das ameaças de um ataque militar dos EUA contra a Venezuela. Negociadores do lado brasileiro justificam que, ainda que o governo do Brasil veja a aproximação de Joesley e Maduro com bons olhos, não é praxe que um governo nacional use pessoas físicas ou empresários renomados para fazer esse tipo de aproximação política.
Além disso, mesmo que Lula e Maduro estejam rompidos há aproximadamente um ano, o presidente brasileiro possui diversos canais diplomáticos para buscar um diálogo concreto com o líder da Venezuela, sem a necessidade de intermediários. Um exemplo é que, apesar do distanciamento entre os dois, o Brasil continua tendo uma embaixada em Caracas e também representação diplomática de alto nível no país vizinho.
Outra especulação que surgiu, a partir do suposto encontro entre Joesley e Maduro, foi a eventual possibilidade de Lula conceder algum tipo de asilo político para o presidente venezuelano, como forma de evitar sua prisão pelo governo Trump. Neste sentido, o jornal Valor Econômico apurou que, até o momento, Maduro não fez nenhum pedido deste tipo, tampouco enviou emissários para consultar o governo brasileiro.
Na avaliação de um assessor experiente, é remota a possibilidade de Maduro procurar o Brasil com qualquer demanda de refúgio diplomático. Primeiro porque o rompimento entre os presidentes da Venezuela e do Brasil é bem conhecido. Em segundo lugar, Maduro sabe que há muitas críticas a ele na sociedade brasileira e também entre os Poderes, o que dificultaria uma proteção.
A visita de Joesley a Maduro foi revelada pela Bloomberg na quarta-feira à noite. De acordo com a agência, autoridades do governo Trump estariam cientes dos planos do empresário de visitar Caracas e reforçar o recado do presidente americano para que Maduro renuncie e permita uma transição pacífica de poder.
Embora a Casa Branca tivesse ciência desse movimento, segundo a agência, Joesley teria viajado por iniciativa própria e não em nome dos Estados Unidos. “Joesley Batista não é representante de nenhum governo”, disse a J&F SA, holding da família Batista, em comunicado.
A JBS é proprietária da Pilgrim’s Pride Corp., produtora de frango com sede no Colorado, que doou US$ 5 milhões ao comitê de posse de Trump, a maior doação individual. A JBS obteve neste ano a aprovação da comissão de valores mobiliários dos EUA, a Securities and Exchange Commission (SEC), para listar suas ações em Nova York.
Batista se reuniu com Trump no início deste ano para defender a remoção das tarifas sobre a carne bovina e com o presidente brasileiro após um desentendimento sobre o processo contra seu antecessor e aliado de Trump, Jair Bolsonaro.
Com a Venezuela, por sua vez, os laços da família Batista remontam a pelo menos uma década. JBS e Maduro negociaram, anos atrás, um acordo de US$ 2,1 bilhões para fornecer carne e frango à Venezuela em um momento em que o país enfrentava grave escassez de alimentos e hiperinflação.
A J&F possui produção de petróleo na Argentina. A empresa havia considerado investir em uma joint venture petrolífera venezuelana centrada em ativos que pertenciam à ConocoPhillips e foram confiscados pelo governo do antecessor e patrono de Maduro, Hugo Chávez, em uma onda de nacionalizações no ano de 2007.
Desde 2023, a Âmbar Energia, subsidiária da J&F no setor energético, possui autorização do Ministério das Minas e Energia para importar energia elétrica da Venezuela. As informações são do jornal Valor Econômico e da agência de notícias Bloomberg.