Quarta-feira, 28 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 27 de maio de 2025
O ministro Alexandre de Moraes é alvo constante de ataques da base bolsonarista.
Foto: José Cruz/Agência BrasilO governo de Luiz Inácio Lula da Silva iniciou conversas reservadas com autoridades dos Estados Unidos após o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmar que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pode ser alvo de sanções pelo governo americano.
A articulação ocorre em alto nível, ou seja, entre integrantes dos altos escalões. Na última quarta-feira (21), Rubio afirmou em audiência no Congresso americano que há “grande possibilidade” de o governo aplicar sanções contra Moraes com base na Lei Global Magnitsky. Essa lei permite punir estrangeiros envolvidos em violações de direitos humanos ou corrupção.
A fala causou incômodo no Itamaraty, que vê na declaração uma tentativa de interferência nos assuntos internos do Brasil e uma afronta ao Judiciário nacional.
Embora Lula e Donald Trump estejam em campos opostos — Lula apoiou a chapa de Kamala Harris, enquanto o ex-presidente e rival de Lula Jair Bolsonaro é próximo de Trump —, diplomatas afirmam que a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos deve ser conduzida com pragmatismo.
Isso significa manter laços comerciais e diplomáticos sólidos mesmo diante de divergências políticas. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China.
O ministro Alexandre de Moraes é alvo constante de ataques da base bolsonarista. Ele é relator da ação penal que acusa Jair Bolsonaro e aliados de tentativa de golpe de Estado após a eleição de 2022.
A denúncia foi aceita pelo STF e inclui Bolsonaro como integrante do “núcleo crucial” da trama. O processo está na fase de depoimentos de testemunhas. Ao final, Moraes apresentará seu voto, que será julgado por outros quatro ministros da Primeira Turma da Corte.
Moraes também está na mira de Cory Mills, deputado considerado fiel a Donald Trump e próximo da família Bolsonaro.
Na sessão da Câmara do último dia 21, em que Marco Rubio estava presente, Mills afirmou que o Brasil enfrenta um “alarmante retrocesso nos direitos humanos” e disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria prestes a se tornar um preso político.
Em seguida, Mills perguntou a Rubio se os Estados Unidos estavam avaliando aplicar sanções contra Moraes com base na lei, quando Rubio afirmou haver “grande possibilidade”.
Para o cientista político Guilherme Casarões, a tentativa de enquadrar uma figura pública brasileira, como Moraes, nessa lei possui representa uma fase muito nova no relacionamento entre o atual governo Trump e a política brasileira. É a primeira vez que se fala especificamente de sanções contra uma figura de autoridade no Brasil.
“No campo das relações Brasil e Estados Unidos, trata-se de uma novidade que já vinha sendo antecipada pelo Eduardo Bolsonaro, pelo grupo bolsonarista, desde a vitória do Trump nas eleições do ano passado.”
“E que agora, com essa possibilidade, ainda não há nada de concreto, mas o mero fato de o secretário do Estado norte-americano, Marco Rubio, ter dito especificamente que considera a possibilidade da aplicação desta lei, no caso do Alexandre de Moraes, isso leva, claro, a nossa relação bilateral e institucional a um patamar muito diferente e muito perigoso”, concluiu.