Terça-feira, 07 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de janeiro de 2019
Enquanto o anúncio da renúncia ao mandato do deputado Jean Wyllys dominava as redes sociais – tornou-se o assunto mais comentado no Twitter brasileiro pouco depois das 16h -, duas publicações do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Carlos foram interpretadas como uma ironia sobre a decisão do psolista.
O perfil do presidente publicou “grande dia”, seguindo de um sinal de positivo, às 16h16m. Dois minutos depois, às 16h18m, Carlos Bolsonaro escreveu: “vá com Deus e seja feliz”, seguido também do sinal de positivo.
As publicações geraram imediata reação, com xingamentos de eleitores solidários à decisão de Jean Wyllys e também aplausos de apoiadores do presidente. Meia hora depois de seu primeiro post, Carlos voltou ao Twitter, marcando o perfil do pai e a imagem de um avião junto à primeira mensagem – dando a entender que o post se referia ao retorno de Jair da viagem à Suíça.
Mais tarde, em nova mensagem, Carlos Bolsonaro criticou os que interpretaram a publicação do perfil do presidente como uma ironia ao deputado do PSOL:
“O presidente está proibido de dizer “GRANDE DIA”, após importante passagem por Davos! O nível de desespero devido a tantas derrotas consecutivas os levam a pirar nas próprias narrativas que inventam! Meu Deus”.
O próprio presidente voltou ao Twitter para negar que estivesse se referindo a Jean Wyllys. Segundo Bolsonaro, o comentário seria uma comemoração da viagem à Suíça: “Fake news! Referi-me à missão concluída, reuniões produtivas com chefes de Estado, voltando ao país que amo, Bolsa batendo novo recorde na casa dos 97.000 e confiança no nosso país sendo restabelecida, isso faz de hoje um grande dia!”, escreveu.
Respostas
O vereador pelo Rio de Janeiro, David Miranda (PSOL), que vai assumir a vaga deixada pelo deputado eleito Jean Wyllys respondeu provocação feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL).
“Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”, escreveu Miranda.
Deputado federal eleito, Marcelo Freixo (PSOL-RJ) também respondeu a Bolsonaro.
“Grande dia, por quê? Por causa das relações de Flávio Bolsonaro com as milícias? Ou por causa das suspeitas de lavagem de dinheiro? ”. Freixo ainda publicou: “Que tal você começar a se comportar como presidente da República e parar de agir como um moleque? Tenha postura”.
Ameaças
Jean Wyllys informou nesta quinta-feira (24) que não tomará posse para o novo mandato para o qual foi eleito.
A assessoria de Jean Wyllys informou que ele tem recebido ameaças e, por isso, decidiu não assumir o terceiro mandato parlamentar. A posse dos deputados federais eleitos está marcada para 1º de fevereiro. Jean Wyllys recebeu 24.295 votos na eleição de outubro.
Em uma rede social, Wyllys publicou: “Preservar a vida ameaçada é também uma estratégia da luta por dias melhores. Fizemos muito pelo bem comum. E faremos muito mais quando chegar o novo tempo, não importa que façamos por outros meios! Obrigado a todas e todos vocês, de todo coração. Axé!”.
Homossexual assumido, Jean Wyllys tinha como principais bandeiras pautas relacionadas às causas LGBT e outras minorias.
De acordo com a Secretaria-Geral da Câmara, o suplente de Jean Wyllys é o vereador carioca David Miranda (PSOL-RJ).
Mais cedo, nesta quinta (24), Jean Wyllys concedeu entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” na qual informou que está no exterior e não pretende voltar ao Brasil. Na entrevista, o deputado diz que tem sofrido ameaças de morte.
“O [ex-presidente do Uruguai] Pepe Mujica, quando soube que eu estava ameaçado de morte, falou para mim: ‘Rapaz, se cuide. Os mártires não são heróis’. E é isso: eu não quero me sacrificar”, disse Jean Wyllys à Folha.
Ainda ao jornal, Jean Wyllys disse que o PSOL, partido ao qual é filiado, reconhece que ele se tornou um “alvo” e apoiou a decisão dele de não retornar ao Brasil.
Marielle
De acordo com a assessoria de Jean Wyllys, o volume de ameaças contra o deputado aumentou após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), em março do ano passado.
Ainda segundo a assessoria, desde então, o parlamentar precisava andar de carro blindado e com escolta de seguranças armados.
“Aumentou a situação de violência, de seguidores do atual presidente [Jair Bolsonaro] que fazem todo tipo de xingamento e ameaças nas redes sociais. Isso criou uma situação cada vez mais difícil. Antes do assassinato da Marielle, ele já vinha recebendo ameaças muito pesadas, inclusive direcionadas não só a ele, mas também à família. E-mails falando endereço da mãe, endereço da irmã, da família”, informou.
De acordo com a assessoria, Jean Wyllys está no exterior, mas o local não será informado por questão de segurança.