Domingo, 20 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 27 de março de 2023
A grave crise política pela qual o governo de Israel está passando desde janeiro ganhou contornos ainda mais sérios nesta segunda-feira (27), com o país amanhecendo sob greve geral e fortes protestos após o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu destituir seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, em repúdio às críticas do aliado à contestada reforma judicial que o governo tenta implementar. A pressão levou o premiê a desistir de aprovar a medida nesta sessão legislativa, mas ainda não está claro até que ponto o recuo será suficiente para os manifestantes.
Pressionado por uma greve geral que paralisou de aeroportos a serviços de saúde, Netanyahu afirmou que não insistirá em aprovar seus planos antes do recesso da Páscoa, que começa no próximo dia 2 e vai até 30 de abril. Ele não deixou claro quando voltará a pautar a iniciativa, afirmando apenas que tomou sua decisão guiado por um desejo de “prevenir um racha na nação”.
Mais cedo, universidades fecharam e líderes sindicais convocaram uma greve geral imediata que ameaça paralisar o país, incluindo a suspensão dos atendimentos médicos não emergenciais e cancelamento de voos. Além disso, prefeitos entraram em greve de fome e diversas outras categorias já sinalizaram adesão às manifestações. Pela primeira vez também há envolvimento dos militares na política, com reservistas criticando a reforma de Netanyahu.
As consequências se estendem ainda além das fronteiras de Israel, causando inquietação entre investidores, influentes judeus americanos e aliados estrangeiros, incluindo os Estados Unidos.
– O que o governo tenta fazer? A coalizão de governo de Netanyahu, a mais à extrema direita e religiosamente conservadora da História de Israel, diz que o Judiciário concedeu a si mesmo maior autoridade ao longo dos anos. O governo também afirma que a Suprema Corte não é representativa da diversidade da sociedade israelense.
Em suas propostas de mudanças judiciais, o governo tenta primeiramente mudar a composição de uma comissão de nove membros que seleciona juízes para o tribunal. A proposta daria aos representantes e nomeados do governo uma maioria automática na comissão, permitindo efetivamente que o governo escolha os juízes. O governo também quer conter o que chama de exagero da Suprema Corte, restringindo drasticamente sua capacidade de derrubar leis que considere inconstitucionais.
Os críticos dizem que a reforma proposta colocaria o poder sem controle nas mãos do governo, removeria as proteções concedidas a indivíduos e minorias e aprofundaria as divisões em uma sociedade já fragmentada. Eles também temem que Netanyahu, que está sendo julgado por acusações de corrupção, possa usar as mudanças para se livrar de seus problemas legais.
– Por que o país está dividido? Em linhas gerais, o cisma na sociedade israelense dividiu as pessoas em dois grupos: os que querem um Estado mais laico e pluralista e os que têm uma visão mais religiosa e nacionalista.
Para seus críticos, a Suprema Corte é o último bastião da elite centrista secular descendente dos judeus europeus que dominaram o Estado durante suas primeiras décadas. Judeus religiosos, particularmente os ultraortodoxos, percebem o tribunal como um obstáculo ao seu modo de vida.
O tribunal muitas vezes se opôs a certos privilégios e subsídios financeiros para os ultraortodoxos. Em particular, o tribunal rejeitou uma dispensa especial que permitia aos judeus ultraortodoxos adiar o serviço militar em favor do estudo religioso, enfurecendo os líderes religiosos. Os israelenses de direita que querem consolidar os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada também veem o tribunal como um antagonista.
– Quem está protestando? A oposição tem sido dirigida principalmente por centristas seculares que temem que a reforma ameace suas liberdades e modo de vida. Mas também há uma crescente resistência e desejo de diálogo e compromisso de partes da direita religiosa que dizem que o governo foi longe demais e rápido demais.
A Histadrut, a maior central sindical do país, que já havia tentado ficar fora da briga, convocou uma greve geral imediata nesta segunda-feira com o objetivo de forçar a paralisação da reforma judicial. Após o recuo do governo, a paralisação foi suspensa. Mas, segundo a polícia, até o fim da manhã no país havia protestos registrados em ao menos 150 pontos, com bloqueio de rodovias e barricadas. Os diretores das principais universidades de Israel também anunciaram coletivamente o fechamento de suas portas indefinidamente para protestar contra o plano.
Mas talvez a oposição mais relevante venha dos reservistas militares, que desempenham um papel significativo na capacidade de defesa de Israel e historicamente se mantiveram fora da política. Os reservistas dizem temer receber ordens militares ilegais se a Suprema Corte não tiver o poder de examinar adequadamente a atividade do governo e serem acusados em tribunais internacionais se o sistema Judiciário israelense for considerado fraco demais para processar soldados.
Líderes militares alertaram que um declínio no número de reservistas, que formam uma parte fundamental do corpo de pilotos da Força Aérea, pode afetar em breve a capacidade operacional das Forças Armadas. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, pediu no sábado a suspensão das mudanças judiciais, mas foi destituído no domingo por Netanyahu, cujo Gabinete anunciou a demissão em um comunicado de uma linha.
Em todo caso, as preocupações persistem entre as lideranças militares, que disseram em particular temer que os soldados em tempo integral também possam começar a renunciar. No domingo, o chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi, ordenou que todos os comandantes falassem com seus subordinados sobre a necessidade de manter a política fora das Forças Armadas e manter a coesão. As informações são dos jornais O Globo e The New York Times.