Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 27 de novembro de 2022
O grupo técnico responsável pela área da saúde no governo de transição sustenta que os dados disponíveis até momento indicam um estado de “caos geral” do setor. O médico sanitarista Arthur Chioro, coordenador do grupo, afirmou que o governo Bolsonaro não repassou informações básicas à equipe, como a atual situação de estoque de vacinas e o prazo de validade do que foi adquirido. Não foram adquiridas, até o momento, as vacinas contra covid e demais doenças para o ano que vem.
Segundo o grupo técnico, milhares de vacinas contra a covid estão por vencer neste ano, enquanto milhares de pessoas de todas as faixas etárias ainda não tomaram vacinas de reforço ou até mesmo a primeira dose, como ocorre entre crianças. Chioro mencionou que o quadro atual é de “absoluta insegurança” e de “descalabrado” em relação ao programa nacional de imunização da população.
“Não se trata apenas de vacina contra a covid, mas do programa nacional de imunização. Nós identificamos um dos mais graves problemas do Brasil, é uma demonstração do descalabro em que a gente se encontra”, comentou, durante entrevista no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB).
Estoque sob sigilo
Chioro chamou a atenção para o fato de que os dados sobre estoque foram, inclusive, colocados sob sigilo pelo Ministério da Saúde, quando deveriam ser uma informação pública.
“O TCU (Tribunal de Contas da União) fez uma análise específica sobre os problemas relacionados à questão das políticas da comunicação e viu que toda a questão dos estoques foi colocada sob sigilo. Acreditem, o Ministério da Saúde estabeleceu o sigilo.”
Segundo Chioro, o cenário trágico revela uma completa desconstrução do setor. “Até o ano de 2015, o Brasil mantinha cobertura vacinal para todas as vacinas inseridas no calendário nacional de imunização em nível superior a 95%. Essas coberturas foram caindo de tal forma que hoje nós estamos numa situação de absoluta insegurança. Esse não é o diagnóstico apenas do grupo de transição, é um diagnóstico apontado pelos gestores municipais, estaduais, pelos especialistas. Não se trata agora de dizer estamos com um potencial risco. Ele é concreto.”
O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que há um quadro preocupante em relação à vacinação das crianças, que “está muito aquém daquilo que seria desejado para todas as faixas”. Há 6 milhões de crianças de 6 meses a 2 anos no Brasil, mas apenas 1 milhão de doses foram distribuídas, e voltadas apenas para crianças com alguma comodidade.
Dados
Os dados apontam que crianças com idade entre 3 e 4 anos representam uma população de 5,9 milhões de pessoas. Destas, apenas 17,8% tomaram a primeira dose de vacina contra a covid. A segunda dose foi tomada por apenas 6,6% desse grupo. Entre as crianças com idade de 5 a 11 anos, que somam 20,5 milhões de pessoas, a primeira dose foi tomada por 70,7%, enquanto a segunda só chegou a 50,1% do total.
Segundo os dados da Fiocruz, entre os dias 24 de outubro e 20 de novembro, foram confirmados 829 casos de internação de crianças. “Esse argumento do governo, de que não estão morrendo crianças, não é verdadeiro. Em média, uma criança com menos de 5 anos de idade morre de covid a cada 2 dias”, disse Humberto Costa. “Poderiam ser crianças vacinadas. Atualmente, essa faixa etária representa 9% das internações.”
A equipe sustenta ainda que nos últimos anos o setor público de saúde deixou de receber uma parcela significativa de recursos. Apenas para atender necessidades emergenciais estima que são necessários R$ 22,7 bilhões. Um dos programas mais afetados é o Farmácia Popular.
Medicamentos
Outra preocupação diz respeito ao acesso a medicamentos. Os dados reunidos pela equipe mostram que há risco de desabastecimento. “É uma realidade que bate com a informação que a gente recebeu da Confederação Nacional de Municípios. Mais de 70% dos municípios brasileiros hoje têm registro de falta de medicamentos básicos”, comentou o senador.
O grupo técnico mencionou ainda a preocupação com as filas em hospitais públicos e a demora de se realizar atendimentos à população em todo o país. Segundo Arhur Chioro, a pasta simplesmente não possui informações básicas sobre a dimensão desse problema que envolve desde consultas especializadas, até exames e procedimentos de cirurgias eletivas.
As estimativas colhidas junto aos estados apontam que cerca de 1 bilhão de procedimentos deixaram de ser realizados nos dois últimos anos, envolvendo cirurgias eletivas e procedimentos ambulatoriais.