Quinta-feira, 08 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2023
Cantor, compositor e pianista dos mais respeitados, com meio século de carreira, Guilherme Arantes chega aos 70 anos de vida nessa sexta-feira (28), em Ávila, província espanhola que escolheu como retiro para respirar novos e puros ares e se reciclar como artista. A residência em Salvador, na Bahia, permanece como seu porto seguro no Brasil, mas é no exterior que ele pretende passar os próximos anos.
“Minha velhice está sendo bem planejada. Sinto que ainda tenho muito a fazer. Estou vivendo o meu terceiro tempo intensamente, inclusive no amor. Nunca experimentei um período tão romântico como o de agora”, afirmou ele em entrevista por videochamada, sobre o casamento com a baiana Márcia Gonzalez, de 52 anos, uma “Fã número 1” que o acompanha desde o início da carreira e virou companheira de vida.
Na entrevista, o paulistano ainda dissertou sobre sua outra grande paixão, a música, e sobre sucesso, dinheiro, visibilidade, vaidade e sonhos a realizar. Acompanhe os principais pontos da sua fala.
1. Você está morando na Espanha? A gente vem pra cá desde 2018. Este ano, eu vim em fevereiro para montar um espaço pra eu compor, com piano. Ávila é pertinho de Madri. Fica na serra, tem clima seco e frio, ar puro e gastronomia forte. Estou planejando a minha velhice aqui. Fico imerso num clima de estudos, conheço lugares históricos. Tive um encontro espiritual com esse lugar, é uma sensação de pertencimento. Descobri coisas da minha ancestralidade aqui.
2. É reconhecido por aí? Não… Isso é muito bom porque tira da vida a perspectiva da fama. No Brasil, você goza de privilégios, passa à frente na fila do restaurante… Aqui eu sou mais um, mas tenho amizades, o pessoal já sabe que eu sou um músico conhecido na minha terra.
3. Pretende voltar ao Brasil? Sim, no segundo semestre, começo uma série de shows por aí, vou passar o verão. Aqui é um retiro. É bom estar fora e alimentar a saudade. Gosto de estar no palco, receber e retribuir o carinho do público, mas na minha idade já bate um cansaço.
4. “Cuide-se bem” é um de seus sucessos. Como está a sua saúde? Tenho feito exames e estou com a saúde muito boa. Bebo e como com moderação. Não fumo há mais de 20 anos. Fui adepto do cigarro desde os meus 13! Era uma geração que achava o fumo algo chique, intelectual. Aqui na Espanha, o pessoal dá tragadas assassinas. O tabaco é muito barato na Europa. Durante a pandemia da Covid, as tabacarias permaneceram abertas, acredita? Eu me livrei disso e acho que vou longe.
5. O que a chegada aos 70 anos representa? Eu consegui me libertar de uma compulsão por shows. Não quero estar no palco aos 90 anos. Me enxergo como um alquimista, um velhinho Gepeto, fazendo as minhas coisinhas, afinando o meu piano. Paulinho da Viola é a minha referência: homem bonito, elegante e íntegro, compositor maravilhoso, músico incrível. Ele não faz questão da gratificação, só da qualidade. É um exemplo de tudo o que quero ser. Tem uma hora em que você cansa de chamar a atenção para o mundo te ouvir.
6. Você fez isso? Sim. Quando eu descobri que tinha o talento da música, determinei: o mundo vai me ouvir. E procurei a TV e a gravadora Som Livre para me lançar em temas de novela, porque eu não queria a vida das bandas de rock. Queria as pessoas cantando as minhas angústias pessoais. E já na primeira, “Meu mundo e nada mais”, eu consegui. As pessoas se identificaram com as minhas baladas existenciais, e minha carreira estourou. Mas ao longo do tempo a gente é desafiado a fazer outro e outro sucesso. Minha mãe dizia que eu precisava de outra “Planeta água”. Por que, se eu já tinha feito uma?
7. Não buscou o sucesso? O sucesso é uma droga de adicção, acaba virando uma obsessão. As pessoas fazem qualquer negócio para conseguir. No meu caso, o meu jeito é que era predominante. Tinha que ser o mundo externo consumindo o meu mundo interior. Nunca cantei só pra ganhar dinheiro. Ir rumo ao desconhecido é a única certeza da minha carreira. Compus para Roberto Carlos, um ídolo meu, e para Maria Bethânia, entre muitos outros. Nunca existiu uma música tão influente no segmento infantojuvenil quanto “Lindo balão azul”. A Turma do Balão Mágico é um derivado dela. Eu a compus sob encomenda, na atmosfera caseira do nascimento do meu segundo filho, com cheiro de mamadeira no ar.