Quinta-feira, 19 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 24 de fevereiro de 2016
Nua, sentada em um tronco de árvore, braços lançados para cima. Os cabelos longos cobrindo os seios. A pose pode não parecer ousada para os dias de hoje, mas, em 1916, a cena fez parte de um importante evento na história do cinema. Annette Kellerman é considerada a primeira estrela a aparecer nua em uma grande produção de Hollywood.
O drama “A Daughter of the Gods” (“Uma Filha dos Deuses”, em tradução livre) teve a atriz no papel de Alícia, uma mulher que se apaixona por um príncipe e pede ajuda dos habitantes da Terra dos Gnomos. O elenco do filme mudo incluiu um sultão, uma bruxa do mal, uma fada do bem e diversos eunucos. Acredita-se que não existam mais cópias da produção, mas os arquivos dos jornais mostram que houve grande interesse. Um anúncio promovendo o filme para os donos de cinemas dizia: “A produção teve lucro por onde quer que passou. Reserve a sua [cópia] agora”.
Uma mulher à frente do seu tempo.
Mas se foi inédito para a Hollywood, o filme foi apenas um de uma série de eventos notáveis na vida de Annette. Campeã de natação, pioneira do teatro vaudeville, estilista de trajes de banho, dublê e mesmo guru de saúde e boa forma. “Ela simbolizava o corpo feminino em forma, ativo e espetacular. Ela conclamou outras mulheres a jogar fora seus corpetes e investir em uma vida saudável”, destaca Angela Woolacott, historiadora da Universidade Nacional da Austrália.
Nascida em Sydney, em 6 de julho de 1887, de pais músicos, Annette sofreu raquitismo na infância e fez natação para cuidar da fraqueza nas pernas. Aos 13 anos, já estava curada. No início do novo século, a australiana se tornou a detentora de todos os recordes mundiais femininos. Ela estava a par do interesse despertado por seus êxitos, então, organizou uma exibição em que nadava com peixes em um aquário e mesmo praticava saltos ornamentais dentro de um teatro.
Suas inovações também chegaram ao mundo da moda. Em 1905, quando ia se apresentar à família real britânica, em Londres, na Inglaterra, Annette foi avisada pelos organizadores que não poderia usar o traje curto que costumava. A solução foi costurar meias-calças ao maiô, criando um traje mais longo que abriu caminho para o mercado feminino das roupas de banho – dois anos mais tarde, ela criou até sua linha de maiôs, em um estilo que ganhou seu sobrenome. Porém foi em 1914 que Annette começou a participar de filmes. No primeiro, “Neptune’s Daughter”, ela usou um macacão cor de pele para as cenas aquáticas. A “Daughter of the Gods” veio em seguida e, na época, teve um dos orçamentos mais caros da história – 850 mil dólares. Segundo a revista Variety, o filme arrecadou quase 1,4 milhão de dólares. Em algumas cenas, a atriz usou um maiô, mas não em outras. Mas o filme teve uma recepção crítica favorável, apesar de algumas cidades americanas e australianas terem tentado barrar sua exibição.
Em 1952, a nadadora, atriz e empresária foi tema do filme “Million Dollar Mermaid” (“A Sereia de Um Milhão de Dólares”, em tradução livre), estrelado por outra atriz vinda das piscinas, Esther Williams. Annette achou o filme biográfico meio “água com açúcar”. Ela, que era capaz de dar chutes altos mesmo em idade avançada, morreu em 1975, aos 88 anos. Não sem antes dizer que “A Daughter of the Gods” fora a melhor coisa que já tinha feito.