Terça-feira, 18 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de novembro de 2025
Melanie Davies é uma das coordenadoras das diretrizes para diabetes tipo 2 da Sociedade Americana de Diabetes (ADA) e da Sociedade Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD). Há 15 anos, a médica está envolvida em ensaios clínicos direcionados em especial a novas terapias para diabetes tipo 2 e obesidade.
Davies foi investigadora principal em vários estudos com tirzepatida (princípio ativo do Mounjaro), incluindo o SURPASS 2, que comparou a tirzepatida com a semaglutida (princípio aivo do Ozempic e wegovy) e mostrou que a tirzepatida alcançou reduções superiores no controle glicêmico (HbA1c) e na perda de peso em adultos com diabetes tipo 2.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo, Davies, que é professora de Medicina do Diabetes na Universidade de Leicester, na Inglaterra, e diabetologista consultora honorária nos Hospitais Universitários de Leicester do NHS Trust (organização dentro do Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido) responsável por administrar e prestar determinados tipos de serviços de saúde pública, falou sobre o aumento de casos de diabetes em pessoas jovens, entre outros temas. Veja abaixo alguns trechos da entrevista.
– Por que o diagnóstico de diabetes tipo 2 tem sido cada vez mais cedo? “Existem fatores genéticos, mas também fatores de estilo de vida e sociais. A obesidade tem aumentado, os hábitos alimentares mudaram, há menos atividade física, mais poluição e fatores epigenéticos em jogo. Tudo isso contribui para o aumento da doença, especialmente entre os jovens. O diabetes tipo 2 representa cerca de 9 em cada 10 casos de diabetes no mundo, e os números estão aumentando de forma dramática em todas as regiões – tanto nos países em desenvolvimento quanto nos países ocidentais. Estamos vendo pessoas sendo diagnosticadas cada vez mais jovens. Há dez anos, no Reino Unido, a idade média era entre 50 e 60 anos. Hoje, temos muitos pacientes na faixa dos 20 ou 30 anos. A criança mais jovem que tratamos tinha 8 anos quando desenvolveu diabetes tipo 2. Então, há fatores genéticos, mas também há estilo de vida e eu diria fatores sociais, então sabemos que, em geral, as pessoas estão se tornando mais obesas e mais pessoas estão vivendo com obesidade e sobrepeso, sabemos que o estilo de vida das pessoas mudou e sabemos que a dieta e os fatores nutricionais das pessoas mudaram, mas também a poluição, o que chamamos de epigenética e genética, muitas coisas estão impulsionando esse aumento no diabetes tipo 2 e particularmente em pessoas mais jovens.”
– É possível reverter esse cenário? “A obesidade é um fator-chave. E é importante reforçar que obesidade é uma doença – não falta de força de vontade ou culpa da pessoa. Pessoas com diabetes tipo 2 costumam apresentar resistência à insulina e falência das células beta, ou seja, o corpo não consegue produzir insulina suficiente para lidar com os níveis de glicose. Além disso, a biologia das incretinas – hormônios como GLP-1 e GIP – não funciona bem nesses pacientes, afetando apetite, saciedade, peso e produção de insulina.”
– Os sistemas de saúde estão preparados para lidar com esse aumento de casos? “Não, de modo geral não estão. O diabetes tipo 2 costuma vir acompanhado de outras condições: acúmulo de gordura nos órgãos, doença hepática gordurosa metabólica, insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, problemas de saúde mental, depressão e estigma. Alguns sistemas de saúde estão mais bem estruturados, mas a quantidade de pacientes e a complexidade dos casos cresceram muito. Temos mais pacientes idosos, mas também um número crescente de pessoas jovens, o que exige suporte psicológico, educação em autocuidado e acesso a novos tratamentos. A boa notícia é que hoje temos medicamentos muito mais eficazes do que há dez anos.”
– No Brasil, assim como no Reino Unido, temos um sistema de saúde público. Aqui, os novos tratamentos são caros e é difícil oferecê-los amplamente. Como funciona no sistema de saúde do Reino Unido com a tirzepatida? “No Reino Unido, temos o NICE, que avalia eficácia clínica e custo-benefício dos medicamentos. A tirzepatida foi considerada custo-efetiva, então é reembolsada pelo sistema público – mas apenas para alguns grupos de pacientes, especialmente aqueles com diabetes tipo 2 e obesidade. Usamos bastante esse medicamento em pacientes jovens, que apresentam progressão mais rápida da doença e complicações precoces. Medicamentos mais antigos, como metformina e sulfonilureias, não são ideais nesses casos porque eles precisam de um bom controle glicêmico, mas também precisam perder peso. É por isso que no relatório de consenso da ADA ESD que analisamos, falamos sobre a eficácia na redução da glicose e no controle de peso, e a trizepatida claramente tem a eficácia mais poderosa tanto em termos de controle glicêmico quanto de perda de peso em nossos pacientes tipo 2.” As informações são do jornal O Globo.