Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de maio de 2016
Um hormônio pode ser a chave para o combate à obesidade, doença que afeta mais de 600 milhões de pessoas no mundo. Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Kentucky (EUA) demonstrou, em testes realizados com camundongos, que a neurotensina está diretamente ligada à absorção de gorduras no intestino. A descoberta pode abrir caminho para novos tratamentos para a redução de peso e servir como um marcador biológico para prever o desenvolvimento futuro da obesidade em crianças e adolescentes.
“Levantamos dados sobre humanos e o fascinante foi descobrir que pessoas com altos níveis de neurotensina têm duas vezes mais risco de se tornarem obesas”, explicou Mark Evers, diretor do Centro de Estudos sobre Câncer da Universidade de Kentucky e líder do estudo, publicado na revista Nature. “Talvez seja possível criar medicamentos que bloqueiem o hormônio, mas acredito que o maior ganho será a possibilidade de identificar essas pessoas com altos níveis de neurotensina, para que elas modifiquem o estilo de vida.”
No experimento, os pesquisadores criaram geneticamente camundongos deficientes em neurotensina, que foram mantidos sob dieta rica em gorduras pelo período de seis meses. Em comparação com o grupo de controle, as cobaias modificadas ganharam significativamente menos massa corporal. A resistência à insulina relacionada à obesidade, precursora do diabetes tipo 2, também foi atenuada, com menores níveis de glicemia.
Os camundongos sem neurotensina também apresentaram menor acúmulo de colesterol e de gorduras no fígado. “Juntos, esses resultados indicam que a deficiência em neurotensina protege contra doenças [no caso, obesidade, resistência à insulina e esteatose hepática, conhecida como gordura no fígado] associadas com o consumo de dieta rica em gorduras”, diz o estudo. O procedimento oposto foi realizado com drosófilas. Moscas foram alteradas geneticamente para produzirem neurotensina e acumularam mais gordura no corpo que o normal.
O experimento não pode ser replicado em humanos; contudo, com a análise dos dados de um estudo sobre o câncer com 28.449 pessoas, Evers e sua equipe identificaram que indivíduos obesos e resistentes à insulina têm níveis elevados de pro-NT – um hormônio precursor da neurotensina.
Perspectiva evolucionária.
Evers explica que a neurotensina é um hormônio natural. Além do papel na absorção de gordura pelo intestino, ele atua sobre o sistema nervoso central, com influências sobre a forma como nos movimentamos e experimentamos a dor e o estresse. No sistema digestivo, é produzido e liberado com a ingestão de gorduras, mas o que chama atenção é que as pessoas possuem diferentes níveis de concentração, mesmo em jejum.
“Essa será uma das linhas de estudo que daremos prosseguimento: tentar identificar por que o nível de neurotensina varia entre os indivíduos”, disse Evers. “Imagine o homem que vivia nas cavernas, que não tinha acesso ao alimento na prateleira do supermercado. Ele precisava armazenar gordura para sobreviver. O problema é que não conseguimos desligar o hormônio para a dieta ocidental, abundante e rica em gorduras.”
Conan Mustain, oncologista da Universidade de Arkansas (EUA), destacou que a metodologia empregada no estudo é robusta e traz novas informações sobre a relação entre a neurotensina e a obesidade. Existe uma teoria que liga a neurotensina à leptina, hormônio relacionado à sensação de saciedade. Por esse entendimento, os camundongos estariam imunes à leptina e não conseguiriam controlar a vontade de comer, com consequente ganho de peso, o que não aconteceu. (AG)