Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de novembro de 2025
Só este ano, o índice de ações da B3 atingiu 25 recordes de fechamento
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, encerrou essa sexta-feira (7) em alta de 0,47%, aos 154.064 pontos, décimo recorde consecutivo. No acumulado da semana, subiu 3%. As máximas históricas têm sido puxadas pelos cortes de juros nos Estados Unidos e pela expectativa de redução também na taxa básica brasileira, a Selic. Dentre os setores, destaque para a alta nas ações de grandes bancos.
Apesar de algumas oscilações, o movimento de valorização que se intensificou nas últimas semanas tem se sustentado desde o início do ano: entre janeiro e esta sexta-feira, o índice da bolsa acumulou alta de 28,08%, passando de 118.533 pontos em 3 de janeiro para os atuais 154.064 pontos.
Entenda
O fator decisivo para a sequência de recordes da bolsa brasileira foi a mudança de postura do Federal Reserve (Fed). Em 29 de outubro, o banco central dos EUA reduziu os juros pela segunda vez em 2025, para a faixa de 3,75% a 4% ao ano — o menor nível desde novembro de 2022. Na reunião anterior, de 17 de setembro, o Fed já havia encerrado um período de nove meses sem reduções.
“Com isso, os investidores estrangeiros voltaram a olhar para os mercados emergentes, especialmente para o Brasil, que ainda paga juros reais muito altos”, analisa a economista-chefe do PicPay, Ariane Benedito.
Juros menores nos EUA reduzem o rendimento das Treasuries, os títulos do governo americano, que são vistos como os investimentos mais seguros do mundo. O movimento faz investidores buscarem aplicações mais rentáveis em mercados emergentes. O Brasil tem se destacado nesse cenário, favorecendo a bolsa e o real frente ao dólar.
Na prática, juros mais baixos nos EUA beneficiam não só a renda fixa brasileira, mas também a renda variável, ao estimular o fluxo de capital para mercados emergentes e aumentar o apetite por ativos de risco, como ações negociadas na B3.
O corte das taxas americanas também contrasta com uma Selic ainda elevada: a taxa básica brasileira está em 15%, o maior nível em quase 20 anos. Na última quarta-feira (5), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu manter os juros inalterados.
Do ponto de vista das empresas, Ricardo Trevisan, CEO da Gravus Capital, afirma que o Ibovespa foi impulsionado, principalmente, pela alta nas ações de empresas do setor financeiro, com destaque para grandes bancos como Itaú Unibanco (+53,53% no ano), Bradesco (+74,61) e BTG Pactual (+90,61%).
“Esses bancos, juntos, representam cerca de 25% do índice e têm se beneficiado da manutenção da taxa Selic em patamares elevados, que sustenta margens de juros robustas e atrai investidores em busca de dividendos consistentes”, diz Trevisan.
Há ainda o bom desempenho de commodities como minério de ferro, petróleo e produtos do agronegócio — que tem fortalecido empresas importantes no Ibovespa neste ano. Balanços financeiros positivos de diversas companhias e a desaceleração da inflação também impulsionaram a bolsa.
Os especialistas afirmam que superar os 150 mil pontos não tem um significado técnico, mas forma um marco psicológico importante que atrai atenção para a bolsa.
“É um patamar simbólico, que reforça a percepção de recuperação do mercado. Essa alta de 28% no ano surpreendeu grande parte dos investidores, que estavam mais focados em renda fixa no início de 2025”, analisa Gustavo Jesus, da Victrix Capital.
Para Hênio Scheidt, gerente de Produtos da B3, o marco indica que os investidores seguem diversificando e sofisticando suas carteiras, “com a renda variável sendo um componente chave de suas estratégias de investimento”.
“Há uma retomada gradual de investidores locais e internacionais em renda variável na bolsa do Brasil”, diz.
De modo geral, a alta do Ibovespa tem sido impulsionada por um fluxo constante de capital estrangeiro. Segundo dados da B3, 58,30% dos recursos aplicados na bolsa brasileira — considerando o mercado como um todo, não apenas o índice — têm origem internacional neste ano.
O impacto para a população em geral é indireto, mas existe. Ao captar recursos por meio de ações, as empresas costumam investir mais, o que gera empregos e aumenta a arrecadação de impostos, com efeitos positivos na economia.