Segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de fevereiro de 2016
O aborto em casos de microcefalia não é uma questão consensual entre as várias igrejas cristãs no Brasil e seus representantes religiosos. Enquanto a Igreja Católica, por exemplo, é contra a possibilidade de interromper a gestação, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil ainda não tem posição formada, e setores da Igreja Batista acham que a mulher deve ter direito ao aborto nesses casos.
A microcefalia é uma má-formação na qual os bebês nascem com a cabeça menor do que o normal e, na maioria dos casos, isso leva ao retardo mental. Exames feitos por laboratórios ligados ao Ministério da Saúde mostram ligação entre a epidemia de microcefalia, que atinge principalmente o Nordeste, e o vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também é vetor da dengue e da chikungunya. A ONU (Organização das Nações Unidas) já pediu que os países atingidos pelo zika permitam o acesso de mulheres à contracepção e ao aborto.
O presidente da Aliança de Batistas do Brasil, Joel Zeferino, destaca que cada fiel tem liberdade de consciência e cada Igreja Batista local tem autonomia. Ele mesmo diz que o grupo que preside representa todos os batistas brasileiros. Mas Zeferino é claro ao defender o direito ao aborto. “Penso que a melhor decisão neste momento é ouvir e fazer um debate sobre essa questão do aborto em caso de microcefalia. E preventivamente liberar esse aborto para as mulheres que queiram fazê-lo, porque é uma questão de Justiça social, para que as mulheres pobres não sejam alijadas de um direito, baseado na liberdade de consciência de cada um”, argumentou Zeferino.
Aborto contribui para a justiça social.
Segundo ele, a questão atinge sobretudo as mulheres pobres e negras, porque aquelas que têm dinheiro podem recorrer ao aborto clandestino. Zeferino destaca ainda o que chama de “aborto masculino”. “Temos falado na nossa comunidade sobre a questão do aborto masculino. Porque a gente foca muito na questão do aborto, da mulher que vai retirar o feto. Mas, já há vários casos de diversos pais, companheiros de mulheres que descobriram que seus filhos têm microcefalia, que estão abandonando suas esposas”, pontuou.
Flávio Irala, bispo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e presidente do Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), falando em nome apenas de sua Igreja, disse que ainda não há uma posição formada sobre o tema. “Como representante da Igreja Anglicana, ainda não temos uma posição definida sobre o aborto. Estamos sempre preocupados com as pessoas, tanto com os fetos quanto com as mães, de modo que possa ser preservada, sempre que possível, a vida”, destacou Irala.
Antes do apelo da ONU, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), da Igreja Católica, divulgou nota dizendo que a microcefalia não justifica o aborto. Seu presidente e arcebispo de Brasília, Sergio da Rocha, voltou a condenar a interrupção da gravidez. “A CNBB reafirmou recentemente sua posição. O aborto não é resposta para o vírus zika. Nós precisamos valorizar a vida em qualquer situação, em qualquer condição. Menor qualidade de vida não significa menor direito a viver. Por isso insistimos que o combate ao vírus zika seja feito”, defende Rocha.
Durante o lançamento da campanha, o ministro das Cidades, Gilberto Kassab, reconheceu que o Brasil está aquém do que precisa ser feito na área de saneamento. Kassab destacou que isso contribui para a proliferação do mosquito Aedes aegypti. (AG)