Sábado, 20 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de setembro de 2015
Integrantes do grupo de 220 imigrantes resgatados pelo navio da Marinha brasileira no mar Mediterrâneo na sexta-feira (4) contaram que estavam há dois dias sem comer, relatou o comandante da embarcação, Alexandre Amendoeira Nunes.
Eles desembarcaram da corveta brasileira Barroso por volta das 14h deste sábado (5) no porto de Catânia, na Sicília (Itália), onde foram acolhidos e cadastrados pelas autoridades. Conforme o comandante, os imigrantes, a maioria de origem síria e libanesa – havia também um indiano a bordo –, haviam partido de Benghazi, na Líbia, e estavam havia 7 dias em alto mar. A embarcação em que estavam, de dois andares e de madeira, levava cerca de 350 tripulantes quando, na verdade, tinha capacidade para apenas 80, descreveu Nunes.
Chance de naufrágio.
O resgate ocorreu após a corveta Barroso ter sido acionada pelo Centro de Busca e Salvamento Marítimo italiano, que identificou navio com chance de naufrágio próximo à Grécia. A embarcação brasileira, que seguia para o Líbano, onde a Marinha participa de uma força naval em missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), era a mais próxima do local para ajudar na tarefa.
“Os tripulantes estavam em dificuldades, o combustível estava acabando e estavam com pouca comida. Como o peso estava mal distribuído, a embarcação estava adernada [inclinada] de lado já”, contou o comandante. “Pelo que nos relataram, não havia um local específico de destino, buscavam qualquer lugar em que pudessem desembarcar em solo italiano”, explicou o oficial brasileiro.
Diálogo.
Com ajuda de um imigrante que falava inglês, a tripulação da corveta conversou com os demais. “Eles não relataram que tinham medo, nada os preocupava. Diziam que o risco vale a pena. Estavam em busca de melhores condições de vida, e também de um local que pudessem trabalhar, onde não houvesse conflito. Fugiam da violência”, revelou o comandante.
Entre os resgatados havia 89 homens, 94 mulheres e 37 crianças, inclusive 4 bebês de colo. A maioria dos adultos tinha idades entre 30 e 40 anos. As crianças, conta o comandante, apresentavam queimaduras e assaduras, devido à exposição ao sol durante dias e também estavam com a roupa molhada. Uma mulher estava com o braço fraturado e uma outra, estava grávida.
Gratidão.
Ninguém foi diagnosticado com doenças. Todos os imigrantes receberam soro, alimentação e cobertores, tendo sido avaliados por médicos e recebido remédios a bordo da embarcação brasileira.
Comandante apontou que também que os imigrantes conseguiram demonstrar sua gratidão. “Hoje pela manhã, após servirmos um café da manhã, eles começaram a interagir mais com a nossa tripulação, a efetuar brincadeiras e se sentiram muito agradecidos com o fato de um navio brasileiro os ter resgatado.”
Sem heroísmo.
Quanto ao seu papel no salvamento das pessoas – que integram uma massa de milhares de homens e mulheres que fogem de suas nações para ter vida nova na Europa – o comandante descartou o papel de herói. “Me sinto apenas um cidadão, um servidor da Marinha do Brasil. Sinto muito orgulho do que faço perante o Brasil. Nada de heroísmo, apenas a nossa função de salvaguarda da vida no mar, como somos treinados desde os bancos escolares. Não considero isso heroísmo, mas parte do nosso dever na Marinha do Brasil”, afirmou Nunes. (AG)