No primeiro semestre, Shiri Melumad, professora da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, deu a um grupo de 250 pessoas uma tarefa simples de redação: compartilhar conselhos com um amigo sobre como levar um estilo de vida mais saudável. Para dar dicas, alguns puderam usar a pesquisa tradicional do Google, enquanto outros puderam contar apenas com resumos de informações gerados automaticamente pela inteligência artificial (IA) do Google.
As pessoas que usaram resumos gerados por IA escreveram conselhos genéricos, óbvios e em grande parte inúteis – coma alimentos saudáveis, mantenha-se hidratado e durma bastante. Enquanto pessoas que encontraram informações com uma pesquisa tradicional no Google compartilharam conselhos mais sutis sobre como se concentrar nos vários pilares do bem-estar, incluindo saúde física, mental e emocional.
A indústria de tecnologia nos diz que chatbots e ferramentas de pesquisa de IA irão impulsionar a maneira como aprendemos e prosperamos, e que qualquer pessoa que ignore a tecnologia corre o risco de ficar para trás. Mas o experimento de Melumad descobriu que as pessoas que dependem muito de chatbots e ferramentas de IA para tarefas como escrever textos e realizar pesquisas geralmente têm um desempenho pior do que as que não os utilizam. “Estou preocupada com o fato de os jovens não saberem como fazer uma pesquisa tradicional no Google”, diz Melumad.
O contexto de sua preocupação é a era da “podridão cerebral”, gíria usada para descrever a deterioração do estado mental causada pelo contato com conteúdo de baixa qualidade na internet. Quando a Oxford University Press, editora do Oxford English Dictionary, elegeu “brain rot” (podridão cerebral) como a palavra do ano em 2024, a definição se referia a como aplicativos de mídia social viciaram as pessoas em vídeos curtos, transformando seus cérebros em mingau.
A crescente desconfiança da academia em relação ao impacto da IA na aprendizagem é uma notícia preocupante para os EUA, um país cujo desempenho em compreensão de leitura já está em declínio acentuado.
Neste ano, as notas em leitura entre crianças, incluindo alunos do oitavo ano e do último ano do ensino médio, atingiram novos mínimos. Os resultados, coletados pela Avaliação Nacional do Progresso Educacional, exame mais confiável dos EUA, foram os primeiros desse tipo a serem publicados desde que a pandemia da covid-19 interrompeu a educação e aumentou o tempo de tela entre os jovens.
O estudo mais importante deste ano sobre os efeitos da IA no cérebro foi realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, onde pesquisadores buscaram entender como ferramentas como o ChatGPT, da OpenAI, poderiam afetar a forma como as pessoas escrevem. O estudo, com 54 estudantes universitários, teve uma amostra pequena, mas levantou questões importantes.
Os estudantes foram solicitados a escrever uma redação de 500 a mil palavras e foram divididos em grupos: um grupo podia escrever com a ajuda do ChatGPT, outro podia pesquisar informações no Google e, um terceiro grupo, podia usar apenas informações próprias.
Os alunos usavam sensores que mediam a atividade elétrica em seus cérebros. Os usuários do ChatGPT apresentaram a menor atividade cerebral, o que não foi surpreendente, já que estavam deixando o chatbot de IA fazer o trabalho. Mas a revelação mais impressionante surgiu depois que os alunos terminaram o exercício de redação. Um minuto após concluírem suas redações, os alunos foram solicitados a citar qualquer parte de suas redações. A grande maioria dos usuários do ChatGPT (83%) não conseguiu se lembrar de uma única frase.
Em contrapartida, os alunos que usaram o mecanismo de busca do Google conseguiram citar algumas partes, e os que não usaram nenhuma tecnologia conseguiram recitar várias frases, em alguns casos, quase toda a redação literalmente.
“Já se passou um minuto e você realmente não consegue dizer nada?”, disse Nataliya Kosmyna, cientista pesquisadora do MIT Media Lab que liderou o estudo. “Se você não se lembra do que escreveu, não sente propriedade. Você ao menos se importa?”
Nataliya destaca como uma grande preocupação as implicações para pessoas que usam chatbots de IA em áreas onde a retenção é essencial, como um piloto que estuda para obter uma licença.
Nos últimos dois anos, escolas em estados como Nova York, Indiana, Louisiana e Flórida correram para proibir celulares nas salas de aula, alegando preocupações de que os alunos estivessem se distraindo com aplicativos de redes sociais como TikTok e Instagram. Dando credibilidade às proibições, um estudo publicado no mês passado descobriu uma forte ligação entre o uso das redes sociais e um desempenho cognitivo mais fraco. As informações são do jornal The New York Times.
