Quinta-feira, 06 de março de 2025
Por Redação O Sul | 9 de junho de 2024
Um encontro fechado entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o CEO do Santander Brasil, Mário Leão, e gestoras causou ruído no mercado financeiro, com impacto no dólar e nos juros futuros, na última sexta-feira (7). Desde o começo da sessão, os ativos já estavam pressionados pelos dados de mercado de trabalho dos Estados Unidos.
O dólar alcançou a máxima do dia às 16h14, cotado a R$ 5,3268. Na mesma hora, os juros futuros também atingiram o maior valor desta sexta-feira. Os contratos com vencimento em janeiro de 2027 chegaram a subir 60 pontos-base, para 11,79%, ante 11,19% na última sessão. No fechamento, o dólar foi cotado a R$ 5,32 e os juros futuros com vencimento em janeiro de 2027 em 11,6%.
A reunião de Haddad com representantes do mercado ocorreu no começo da tarde, às 14h. Após o encontro, Haddad deu uma entrevista coletiva na qual elogiou a aprovação da “taxa das blusinhas” – a cobrança de Imposto de Importação de 20% sobre compras internacionais de até 50 dólares. Minutos depois de encerrar a entrevista, o ministro convocou a imprensa novamente para criticar o que chamou de “vazamento de informação falsa”.
“Houve uma reunião com pessoas do Santander aqui e teve um protocolo que foi quebrado. A condição era que não interpretassem o que eu falei. Me fizeram uma pergunta se havia contingenciamento este ano se algumas despesas obrigatórias crescessem para além do previsto e eu falei que sim. Falei que, se algumas despesas crescessem para além do previsto, haveria um contingenciamento de gastos, o que é absolutamente normal e aderente ao que prevê o arcabouço fiscal. Não entendi a intenção da pessoa que vazou uma informação falsa a respeito do que eu disse”, afirmou o ministro.
Haddad frisou que, pela própria dinâmica do arcabouço, se alguma despesa estivesse crescendo além do que está previsto no Orçamento, isso poderia pressionar outros gastos e levar o governo a contingenciar recursos. De acordo com o ministro, qualquer leitura de mudança no arcabouço fiscal é “errônea”.
“Você não pode utilizar uma reunião fechada para depois vender para o mercado aquilo que não foi dito. Interpretaram o que eu falei indevidamente. Na minha opinião, o que saiu vinculado é uma irresponsabilidade. É uma interpretação errônea”, declarou Haddad.
Versões diferentes
Participantes da reunião com o ministro deram versões distintas sobre as declarações de Haddad. O ponto que gerou estresse foi um comentário sobre um possível contingenciamento neste ano em caso de maior pressão de despesas obrigatórias. Segundo o relato de um deles, o ministro teria falado em contingenciar R$ 30 bilhões para manter o que está previsto no arcabouço fiscal.
A meta deste ano é alcançar déficit zero, com margem de tolerância para um déficit de até 0,25% do PIB. A decisão ficaria a cargo do presidente Lula e seria tomada até agosto.
Não houve consenso sobre o encontro. Há relatos ainda de que Haddad teria apenas defendido uma abordagem mais racional e um debate de forma direta sobre equilíbrio entre despesas e receitas.
De acordo com os participantes, o tom da conversa passou a sensação de que a agenda econômica não depende só do ministro da Fazenda. Enquanto alguns não viram nenhuma indicação de flexibilização da atual regra fiscal, outros captaram que não haveria disposição do governo para cortar gastos, o que colocaria o limite de despesas do arcabouço em xeque. As informações são do O Globo.