Segunda-feira, 29 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 4 de outubro de 2019
A pressão internacional após a morte da torcedora Sahar Khodayari, que pôs fogo no próprio corpo em protesto desesperado pela condenação a seis meses de prisão por ter ido a um jogo de futebol, começa a dar resultados no Irã. Ingressos para setores destinados às mulheres na partida da próxima quinta-feira, contra o Cambodja, em Teerã, foram colocados à venda e se esgotaram em poucas horas nesta sexta-feira (04).
O jogo, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo do Catar-2022, é o primeiro da seleção iraniana em casa após a trágica morte de Sahar Khodayari. No Irã, as mulheres são proibidas por lei de frequentar estádios de futebol desde 1981, como consequência da Revolução Islâmica de 1979.
Semana passada, durante o Fifa The Best, evento de premiação dos melhores do mundo no futebol, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, já havia condenado a situação no Irã e indicado a possibilidade de mudanças. Uma delegação da Fifa esteve no país para acompanhar a preparação para o jogo contra o Cambodja.
A Fifa informou à agência de notícias Reuters que 4,6 mil ingressos foram destinados ao setor destinado às mulheres para a partida de quinta-feira. O estádio tem capacidade para 78 mil lugares.
Diretora de Iniciativas Globais da ONG Human Rights Watch, Minky Worden ainda vê com preocupação a volta das mulheres a um jogo de futebol no Irã, devido às condições restrititvas para a presença feminina no estádio.
“Qualquer concessão da Fifa para limitar o número de mulheres que podem ir ao estádio apenas fortalece os radicais do Irã que no passado já pré-selecionou mulheres para ir a eventos esportivos, mantendo suas restrições discriminatórias”, afirmou Minky.
Como a venda dos ingressos para as mulheres foi feita apenas via internet, e sem anúncio prévio, entidades como a Human Rights Watch e a ONG OpenStadiums levantam dúvidas sobre quem teve oportunidade de adquirir seu ingresso e a possibilidade da venda ter sido destinada a grupos pré-escolhidos, como ocorreu no dia 14 de setembro em um jogo de vôlei entre Irã e Catar, em Teerã.
Além disso, essas entidades também criticam o isolamento das mulheres em um setor exclusivo, o que as impede de acompanhar filhos, maridos e outros familiares e amigos na partida, assim como dificulta o acesso a mulheres com deficiência, que têm direito a acompanhante.