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Inteligência artificial revoluciona a rotina dos advogados, mas também fecha portas

Em escritórios de médio e grande porte, a tecnologia já é usada como apoio em arbitragens, due diligence e contencioso de massa. (Foto: Reprodução)

A inteligência artificial (IA) avança rapidamente sobre o setor jurídico e vem transformando a forma como advogados, escritórios e tribunais lidam com processos e demandas. Ferramentas capazes de analisar milhares de páginas em segundos, elaborar petições iniciais e até sugerir estratégias jurídicas estão se tornando parte da rotina dos profissionais da área.

Para muitos, a mudança significa ganho de produtividade. Atividades que antes exigiam horas de dedicação, como a revisão de contratos, podem ser feitas de maneira quase instantânea. Softwares baseados em IA são capazes de identificar cláusulas abusivas, apontar riscos jurídicos e comparar documentos com legislações atualizadas. Em escritórios de médio e grande porte, a tecnologia já é usada como apoio em arbitragens, due diligence e contencioso de massa.

“É como ter um estagiário que nunca se cansa e tem acesso a todo o acervo de jurisprudência”, resume um advogado especializado em direito empresarial. A promessa é de que a IA libere os profissionais para tarefas de maior valor estratégico, como a negociação e a atuação direta em audiências.

Oportunidades e ameaças

Se por um lado a inovação aumenta a eficiência, por outro acende alertas. A automação de atividades repetitivas reduz a necessidade de mão de obra iniciante, fechando portas para estagiários e jovens advogados. Nos Estados Unidos, universidades já relatam queda no interesse por determinadas áreas jurídicas consideradas mais suscetíveis à substituição.

Outro ponto é a desigualdade de acesso. Grandes bancas, com capacidade financeira para investir em tecnologia, tendem a ganhar vantagem competitiva frente a escritórios pequenos. Isso pode aprofundar a concentração de clientes e dificultar a sobrevivência de profissionais autônomos.

Há também riscos éticos e jurídicos. Modelos de IA podem gerar erros, baseados em interpretações equivocadas ou informações desatualizadas. Casos de “alucinações” — quando a ferramenta inventa jurisprudências ou cita precedentes inexistentes — já foram registrados em tribunais americanos. No Brasil, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) discute normas para regular o uso da tecnologia em processos.

Um futuro em redefinição

Especialistas avaliam que a IA não substituirá completamente o trabalho humano, mas mudará seu perfil. Competências como interpretação crítica, mediação de conflitos e inteligência emocional devem ganhar mais espaço em um mercado cada vez mais dominado por algoritmos.

“Não é o fim da advocacia, mas o fim de uma advocacia como conhecíamos”, avalia um professor de direito digital. Para ele, a profissão passa por um processo semelhante ao da revolução digital em outras áreas, como o jornalismo e a medicina: resistências iniciais seguidas por adaptação.

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