Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 10 de julho de 2017
A disposição em investir no Brasil parece imune às más notícias. Enquanto a economia patina, as reformas econômicas balançam e o presidente Michel Temer é denunciado por corrupção, os investidores mostram uma tolerância surpreendente. É certo que o País conseguiu acumular um volume respeitável de reservas internacionais e exibir uma inflação em níveis historicamente baixos, o que o protege de possíveis choques.
Mas os fluxos de recursos respondem muito mais a um cenário de ampla liquidez global e a uma disposição maior a correr riscos que coloca não só o Brasil, mas os emergentes de uma maneira geral, no centro das atenções. “O mundo cresce sem inflação, o que afasta o medo de uma disparada dos juros globais e gera um otimismo geral. O investidor fica mais propenso a investir, inclusive em emergentes”, diz o especialista Luiz Gustavo Cherman.
É essa a principal explicação para o comportamento aparentemente errático do investidor, que primeiro ansiava por uma troca de governo que organizasse de vez as contas públicas, depois passou a apostar as fichas na reforma da Previdência, atrelando a recuperação econômica a ela, e agora parece aceitar que isso fique para depois das eleições.
“Metade dos investidores acredita que dá para passar a reforma da Previdência com uma idade mínima e outra metade avalia que não dá, mas que isso não é o fim do mundo, dado que nenhum outro país emergente está propondo reformas tão ambiciosas”, destaca o consultor João Augusto de Castro Neves. “E isso também explica em parte a tolerância do estrangeiro”, afirma.
A condescendência dos investidores com o risco político global vai muito além do Brasil e engloba as incertezas causadas por Donald Trump, nos EUA, Recep Erdogan, na Turquia, ou mesmo pelo “Brexit”, a saída do Reino Unido da União Europeia, diz Marco Casarin, economista-chefe para América Latina da consultoria inglesa Oxford Economics.
Uma variável local bem específica a manter o Brasil na mira do investidor externo, diz Casarin, seriam os juros locais acima da média de países semelhantes. “Num mundo de juros extremamente baixos, o Brasil continua oferecendo rendimento muito decente, mesmo com juros cadentes”, afirma.
Na Bolsa, diz Cherman, a história é um pouco diferente. No acumulado do ano, em dólar, a Bolsa brasileira cresce 2%, mas tem o segundo pior desempenho entre os mercados emergentes, à frente apenas da Rússia, que apresentou queda de 10%.
Estrangeiro
Ainda assim, o fluxo estrangeiro prevalece em relação ao local. “Se alguém está investindo na Bolsa são os estrangeiros. Sem eles, estaria pior”, afirma Cherman.
Para Castro Neves, uma das razões para a disposição do estrangeiro, além da ampla liquidez, seria a possibilidade de diversificação, que abre espaço para que tolere ganhar menos ou até mesmo perder em um mercado para compensar em outro.
Já o brasileiro, bem mais exposto ao dia a dia local, oscilaria mais do otimismo ao pessimismo. João Pedro Ribeiro, economista do Banco Nomura em Nova York, diz que, quando se dispõe a olhar o que está acontecendo no País, o investidor estrangeiro tende a afastar a possibilidade de ruptura da política econômica, ao avaliar que, mesmo se o presidente Temer sair do poder, a equipe que toca a economia permanecerá. (Folhapress)