Quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de setembro de 2025
Seus últimos meses foram marcados não apenas por sofrimento físico, mas por dificuldades financeiras.
Foto: ReproduçãoAngela Ro Ro, cantora, compositora e pianista carioca, morreu aos 75 anos no dia 8 de setembro de 2025, após meses de internação em decorrência de complicações de saúde. Ícone irreverente da MPB, autora de sucessos como “Amor, Meu Grande Amor” e “Gota de Sangue”, Ro Ro viveu seus últimos dias enfrentando uma infecção pulmonar grave, problemas renais e uma deterioração geral do seu estado físico.
Ela havia sido internada no Hospital Silvestre, no bairro do Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro, desde meados de junho, quando deu entrada com infecção pulmonar. Nos registros médicos, ela foi submetida a traqueostomia no início de julho, além de hemodiálise, devido ao comprometimento dos rins. Em alguns momentos, enfrentou sedação prolongada, incapacidade de se comunicar verbalmente e grande fraqueza física.
Além das complicações decorrentes à saúde, Ro Ro experimentou avanço do estado clínico dentro do hospital: segundo seu advogado, ela contraiu uma bactéria na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), proveniente da própria instituição onde estava internada, e não estava isolada dos demais pacientes. Também foi relatada uma parada cardíaca durante procedimento cirúrgico.
Seus últimos meses foram marcados não apenas por sofrimento físico, mas por dificuldades financeiras. Ro Ro dependia em parte de doações para manter as despesas, pois, como apontam as reportagens, vivia com rendimentos irrisórios de direitos autorais. Ainda em junho, ela desabafou sobre sua fragilidade: anemia, fraqueza, demora nos resultados de exames.
Angela Maria Diniz Gonsalves nasceu no Rio de Janeiro em 5 de dezembro de 1949, e ganhou o apelido “Ro Ro” ainda criança, por causa da voz rouca. Sua carreira começou nos anos 1970, com forte mistura de MPB, blues, rock, jazz, destacando-se desde o primeiro álbum, de 1979, que trouxe canções autorais como “Amor, Meu Grande Amor”, “Agito e Uso”, “Gota de Sangue”, que se tornaram clássicos. Ao longo das décadas, Angela cultivou uma imagem forte, marcada por irreverência — musical e pessoal —, por escolhas de carreira que desafiavam convenções, por temas de amor, desejo e identidade em seus discos, e por confrontos públicos com preconceitos.
Amiga de muitos artistas, digna de respeito por seu talento e temperamento, ela recebeu homenagens de colegas músicos, amigos e fãs. Pessoas como Fafá de Belém ressaltaram sua força, sua genialidade “sangrada pelos poros”, afirmando que Ro Ro nunca se poupou. Maria Bethânia, Ana Maria Braga e outros evocaram sua voz única, sua coragem, sua capacidade de emocionar.
A morte de Angela Ro Ro indica não só a perda de uma voz singular da MPB, mas também escancara carências do sistema de saúde, das redes de apoio aos artistas em situação precária, além dos desafios enfrentados por quem vive da arte em um país desigual. Sua obra, entretanto, permanece: suas músicas seguem vivas nos discos, regravações e na memória afetiva de quem acreditou que ser irreverente era também ser livre.