Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de abril de 2022
Enredo da Estação Primeira de Mangueira no Carnaval de 2022 do Rio de Janeiro, José Bispo Clementino dos Santos (12 de maio de 1913 – 14 de junho de 2008), o Jamelão, ganhou homenagem da agremiação verde-e-rosa no desfile orquestrado pelo carnavalesco Leandro Vieira no fim da noite de sexta-feira, 22 de abril.
Nascido e criado no subúrbio carioca, Jamelão é o José do título do samba-enredo Angenor, José e Laurindo (Moacyr Luz, Leandro Almeida, Pedro Terra e Bruno Souza). Além de exaltar Jamelão, o enredo celebra as vidas e obras de Cartola (1908 – 1980) e Hélio Laurindo da Silva (1921 – 2012), o ritmista, diretor de bateria e mestre-sala conhecido como Delegado.
São três justas homenagens que, no caso de Jamelão, é prestada até um pouco tarde, já que o cantor – celebrado como o maior “puxador” (qualificação ao qual tinha ojeriza) de samba da escola – é nome indissociável de Mangueira, escola na qual ingressou na bateria como ritmista hábil no toque do tamborim.
Tendo atuado como intérprete na agremiação de 1949 a 2006, Jamelão está imortalizado como uma das maiores vozes do Carnaval. E, no caso dele, tamanho era documento. A voz de tenor tinha alcance até então inimaginável em desfiles. Era capaz de se fazer ouvir sobre todos os sons naturalmente provocados por uma escola na avenida, inclusive sobre o toque da bateria.
Contudo, Jamelão também reinou fora do Carnaval, nos salões e nas boates. Tanto que o título do terceiro dos 25 álbuns lançados pelo artista entre 1957 e 2002 é O samba é bom assim – A boite e o morro na voz de Jamelão, disco de 1960.
Essa discografia se equilibrou entre o samba-enredo e o samba-canção, dois estilos do mesmo gênero, mas de ambiências distintas. Crooner da Orquestra Tabajara, Jamelão também se notabilizou pelo canto dos doídos sambas-canção, tendo sido um dos principais difusores do cancioneiro amargurado de Lupicínio Rodrigues (1914 – 1974). Nessa seara, vale ouvir o álbum Recantando mágoas – Lupi, a dor e eu, lançado em 1987.
Também compositor, Jamelão é o parceiro de Budu da Portela em Esta melodia (1959), belo samba de terreiro revivido por Marisa Monte em 1994.
Artista que se tornou lendário pelo risível mau-humor, Jamelão é voz imortal que merece a exaltação da Mangueira no Carnaval de 2022.
Desfile
Segunda escola de samba a entrar na Sapucaí na sexta-feira, a Mangueira levou para a Avenida uma homenagem a três grandes figuras da sua história: Cartola, Jamelão e Delegado. Com enredo assinado por Leandro Vieira, mais uma vez, a Verde e Rosa exibiu um padrão estético belíssimo na Sapucaí.
A bateria também foi um grande destaque da agremiação. Porém, a agremiação teve alguns problemas nos quesitos alegorias e adereços, samba-enredo e evolução que podem prejudicar a avaliação com os jurados. Na reta final do desfile, o intérprete Marquinhos Art’Samba passou mal e precisou ser atendido no carro de som.
Em seu sexto desfile como carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira trouxe para a Sapucaí uma homenagem a três grandes figuras da história da escola. Jamelão, que foi intérprete da agremiação por sete décadas, Cartola, um dos maiores compositores da história da música brasileira e compositor da escola, e Delegado, que foi mestre-sala da agremiação por quatro décadas.
Conhecido pelo bom gosto estético, novamente Leandro Vieira trouxe uma Mangueira muito bem fantasiada para a Sapucaí. A escola encantou aqueles que estavam presentes no Sambódromo. No entanto, as alegorias da agremiação chamaram a atenção pelo tamanho menor em relação aos últimos desfiles da agremiação que conquistou o título em 2019 e voltou nas campeãs em 2020. Além disso, um dos carros da escola apresentou um problema de iluminação na frente dos jurados.
Outro ponto positivo foi a Comissão de Frente da escola, que mostrava figurinistas caracterizados pelos personagens homenageados. Foi um momento de grande emoção na Sapucaí. A bateria do mestre Wesley também se destacou na Avenida. Com improvisos e paradinhas, a “Tem que respeitar meu tamborim” levantou o público em muitas vezes na Sapucaí. Além disso, o casal de metre-sala e porta-bandeira Matheus Olivério e Squel Jorgea também cumpriram sua função de maneira correta diante dos jurados.
Além do formato menor das alegorias e do problema no carro apagado, outro ponto negativo do desfile da Mangueira foi o samba-enredo. Bastante criticado antes do desfile, o samba realmente não conseguiu levantar a Sapucaí, sendo um contraste em relação aos últimos anos, quando a Verde e Rosa trouxe para a Avenida obras que faziam o público ir ao delírio e cantar de ponta a ponta.