Sábado, 21 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 20 de junho de 2025
Está quente e ensolarado, e há uma festa na piscina no sétimo andar do conjunto de apartamentos mais sem graça daqui. No elevador, mulheres loiras carregando boias e copos entram em fila e conversam sem perceber que um dos atores mais eletrizantes do cinema foi encurralado em um canto. Não é uma posição em que os personagens de Javier Bardem costumam se encontrar. Mas, nesta manhã, ele abre um sorriso e aceita ser espremido.
Bardem não dirige — irônico, considerando que ele está ali para falar sobre seu papel em “F1”, um blockbuster sobre Fórmula 1 ambicioso o bastante para incorporar suas filmagens a uma temporada real da categoria. O filme leva Bardem e seus colegas de elenco — Brad Pitt, Damson Idris e Kerry Condon — do circuito de Silverstone, no Reino Unido, a Budapeste, Las Vegas e Abu Dhabi.
No longa, Pitt e Idris são pilotos de uma escuderia decadente, que passou duas temporadas sem marcar um ponto sequer. Bardem os lidera como Ruben Cervantes, ex-piloto endividado que virou dono de equipe e aposta suas últimas fichas — talvez equivocadamente — em um velho amigo e em um novato promissor.
‘O alicerce da história’
A condução dos carros é o ponto central do filme, claro, com o diretor de “Top Gun: Maverick”, Joseph Kosinski, projetando câmeras com certificação IMAX para caberem nos assentos dos carros de corrida. Mas Pitt, também produtor do filme, chamou Bardem de “o alicerce da nossa história” — mesmo sem dirigir, ele conduz a narrativa.
Aos 56 anos, Bardem parece ter nascido com habilidade para lidar com situações difíceis. Descendente de uma longa linhagem de atores e artistas, cresceu na Espanha em teatros e sets onde sua mãe, Pilar, atuava. Ela criou ele e os dois irmãos mais velhos “como uma matilha de lobos”, disse ele. “Podia ser brutal”.
Bardem é casado com a estrela Penélope Cruz, e o casal tem dois filhos: Leo, 14 anos, e Luna, 11. Bardem ainda se lembra do momento em que decidiu que queria ter filhos. Foi “como um ato de amor”, ele disse, e um desejo de “criar algo bonito”.
Acabou sendo bonito, sim – mas também transformador e difícil.
“Como homem, você acompanha aquela pessoa, mas não passou pelo que ela passou. A gravidez não foi tão ruim, mas a depressão pós-parto, sim”, diz ele. “Eu não consegui dimensionar o que era. Mas depois, consegui. Ela é uma mulher incrível por ter conseguido compartilhar isso.”
No seu apartamento em Atlanta, na Geórgia, Bardem mostrou cartas de amor de Cruz e rabiscos dos filhos que leva consigo para decorar os quartos beges dos lugares onde trabalha. Bardem está na cidade para filmar uma adaptação da Apple TV+ de “Cabo do medo” (ele é o ex-presidiário letal), inspirada no filme de Martin Scorsese. Mas tem alternado entre Los Angeles, por trabalho, e Madri, onde vive com Cruz. Duas semanas é o máximo que aceita ficar longe dos filhos.
“Fiquei três semanas longe e literalmente meu corpo teve reações físicas de dor e tristeza”, disse.
Bardem é um homem de sentimentos intensos, trazendo uma carga emocional mesmo para papéis em grandes produções. Na franquia “Duna”, seu Stilgar tem a fé fervorosa de um convertido. No filme de James Bond “Skyfall”, Bardem deu ao vilão Raoul Silva um charme explosivo.
Ele conseguiu seu primeiro trabalho como ator aos 6 anos, em uma série de TV espanhola estrelada por sua mãe. Mas só estourou nos EUA com o filme dos irmãos Coen “Onde os fracos não têm vez”, de 2007, que o transformou em astro e lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante. Ele interpretou Anton Chigurh, um vilão impiedoso com um corte de cabelo tão estranho e sinistro que até hoje é figurino recorrente no Halloween.
Bardem reencontrou Cruz no set de “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen, no ano seguinte — 15 anos depois de terem contracenado em “Jamón Jamón”, tragicomédia sensual em que Bardem chega a simular uma tourada completamente nu. Ela tinha 17 anos; ele, 21.
“Éramos muito jovens e não era o momento. Mas aí, o momento chegou, a gente soube… e tentou evitar”, recordou.
Quando as filmagens de Vicky Cristina Barcelona estavam terminando, Bardem ainda não havia tomado uma atitude. Ligou para três de seus melhores amigos, aflito. Mas na última noite no set…
“Tomamos uns drinques e aí… já fazem 18 anos.”
Contra exposição
Só quando o assunto é celebridade que Bardem deixa escapar um traço da fúria que exala no cinema. Sim, ele sabe que a fama tem suas vantagens:
“Você consegue uma mesa quando o restaurante está lotado, pode conhecer gente que admira. Mas se tornar tão visível também rouba algo de você.”
Em “F1”, outro ator poderia ter feito de Ruben um dinossauro desesperado. Mas Bardem desvia desse caminho. Em suas cenas com Pitt, ele eleva a emoção e dá ao relacionamento deles um toque doce e vibrante. Bardem resumiu o filme como “uma história de amor entre esses dois homens.”
“Acho que formamos um grande casal”, disse Pitt.
Em breve, Bardem e Cruz vão se instalar na Espanha para filmar “Bunker”, um thriller dirigido por Florian Zeller (“Meu pai”), escrito com o casal em mente: “O bom de trabalhar com a Penélope é que, antes de tudo, ela é uma grande atriz”.