Sexta-feira, 21 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de setembro de 2017
Apenas seis dias depois de ter sido exonerado do cargo de procurador do Ministério Público Federal, Marcello Miller participou de reunião na PGR (Procuradoria-Geral da República) como advogado do grupo J&F, controlador da JBS. Miller foi exonerado no dia 5 de abril deste ano e no dia 11 já representava a empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista em reunião com seus antigos colegas de trabalho. A informação foi obtida pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação.
Os registros de entrada da portaria do edifício-sede da PGR mostram que Miller esteve no local nos dias 11 e 18 de abril. Em resposta à reportagem, a PGR confirmou a presença e informou que ele representou o grupo controlador da JBS na ocasião. De acordo com a instituição, Miller participou de uma reunião com representantes do grupo de trabalho que atua na Lava-Jato e com a força-tarefa da Operação Greenfield da Procuradoria da República do Distrito Federal. Essa reunião ocorreu no dia seguinte ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin ter homologado um pré-acordo de delação dos executivos da JBS.
“No dia 11/4, Marcello Miller participou de reunião entre os representantes dos escritórios de defesa dos executivos e do Grupo J&F e membros do MPF. Na ocasião, foi explicado que as negociações da leniência e da colaboração premiada seriam feitas separadamente, por equipes distintas. Miller compareceu na condição de advogado do escritório Trench, Rossi e Watanabe Advogados, sem o conhecimento prévio dos membros que participaram das negociações”, afirmou a PGR.
Apesar da informação sobre a divisão das negociações, Miller voltou à PGR na semana seguinte, no dia 18. Nesse dia não teria participado de nova reunião, uma vez que a banca de que participava trataria apenas do acordo de leniência. Assim, teria sido orientado a se dirigir a outro local, a Procuradoria da República do DF, onde haveria reunião no mesmo dia sobre o tema de sua atuação.
Chefe de gabinete de Janot esteve em reunião
De acordo com o Ministério Público Federal, Marcello Miller estava acompanhado de Francisco de Assis e Silva, advogado da JBS que acabou virando também delator, no dia da reunião. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não teria participado do encontro do dia 11, que teve a presença do seu chefe de gabinete, Eduardo Pelella, e do coordenador do grupo de trabalho da Lava-Jato, Sérgio Bruno Fernandes. A PGR afirma que Janot não esteve com Miller nenhuma vez após a exoneração.
Temer questionou atuação
A atuação do ex-procurador na defesa da empresa já foi questionada pelo presidente da República, Michel Temer, que foi um dos alvos da delação de Joesley. Ao se defender dizendo que a denúncia de corrupção contra ele era uma “ilação”, Temer fez ataques a Janot, criticando a atuação de Miller como advogado da JBS. O acordo de delação dos executivos da JBS foi questionado pela existência de cláusulas que lhes garantiram imunidade, ou seja, o benefício de nem sequer serem denunciados pelo Ministério Público.
O escritório Trench Rossi Watanabe alegou que o sigilo profissional impede comentários sobre a atuação na advocacia, reiterando apenas que “o escritório foi contratado para trabalhar no acordo de leniência do grupo J&F e não na delação premiada dos executivos da JBS”.
Enquanto as negociações para a delação tramitaram de forma acelerada, as tratativas sobre leniência demoraram mais tempo. A banca em que Miller trabalhava acabou deixando o caso, e no dia 30 de maio o acordo foi fechado pelo escritório Bottini & Tamasauskas Advogados. O grupo que controla a JBS concordou em pagar R$ 10,3 bilhões, em 25 anos. (AG)