Sábado, 15 de novembro de 2025
Por Valdeci Oliveira | 15 de novembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Nesta semana, o manto do luto, aquele que reveste nossa alma com uma tristeza profunda e nos cala por instantes que parecem intermináveis, recaiu sobre o estado, sobre os amantes do Nativismo, sobre aqueles que têm sorte e sensibilidade suficientes para perceber e sentir o belo da nossa cultura, dos nossos valores, do nosso cotidiano mais simples e sincero. Perdemos do nosso convívio João Chagas Leite que, ao lado de outros, foi uma das principais vozes que eternizaram versos e melodias com o que de mais fundo cala na alma rio-grandense. Assim como em outras cidades que tiveram o mesmo privilégio em acolher tamanho talento, Santa Maria, que o fez por duas décadas, começou o último dia 11 de novembro menos alegre com a partida dele.
Cantor de voz inconfundível, compositor talentoso que sabia escolher as palavras para descrever, a partir do abstrato, nossos mais profundos sentimentos – alguns que nem mesmo tínhamos consciência de tê-los – e instrumentista de qualidade, João Chagas Leite sabia, como poucos, falar da alma gaúcha, dos nossos desejos, saberes e dramas. Como não se emocionar com uma frase carregada de vida que diz que “cada pôr de sol dói feito uma brasa queimando lembranças no meu coração”, eternizada em “Desassossegos”. Ou o trecho final de “Partida”, que diz “em cada coisa há de ficar teu cheiro, que é mais feliz aquele barranqueiro que, após a festa, tem para quem voltar”.
Em mais de meio século de trabalho artístico, deu vida a centenas de composições, cultivou parcerias, participou de um sem número de festivais – vencendo diversos deles -, gravou discos e por dois anos consecutivos foi eleito o melhor intérprete do Rio Grande. Driblou uma limitação na mão e até rock tocou no início da carreira. Nas prosas que tivemos em diferentes momentos e oportunidades, quando morou em Santa Maria, em cujas ruas era figura presente, se mostrava de uma simplicidade que desarmava qualquer conceito pré-fabricado que por ventura tivesse o interlocutor sobre sua figura.
Ao perdermos João Chagas Leite, nossa cultura fica um tanto mais órfã, o Nativismo mais carente e nossos dias menos alegres. Mas teremos sempre a nos acompanhar a lembrança do seu sorriso largo, o abraço que só os amigos são capazes de dar e pequenas obras de arte em forma musical – e aí incluo “Por Quem Cantam os Cardeais”, “Ave Sonora”, e tantas outras canções mais – que fizeram e continuarão fazendo parte da vida de muitos gaúchos e gaúchas, como é o meu caso.
Descansa em paz, João!
(Valdeci Oliveira – Deputado estadual – PT)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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