Sexta-feira, 06 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 5 de junho de 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido pelo líder francês Emmanuel Macron em Paris nessa quinta (5), em sua primeira visita de Estado ao país durante seu terceiro mandato. A viagem acontece após a passagem de Macron pelo Brasil em março do ano passado, quando ambos visitaram a Amazônia, participaram de eventos oficiais em Brasília e assinaram acordos bilaterais.
Ao longo da visita, as imagens dos dois líderes sorrindo, caminhando de mãos dadas e trocando gestos de afeto reforçaram a narrativa de um “bromance” diplomático, amplamente repercutido na imprensa internacional.
E a expectativa é que o clima de amizade seja mais uma vez explorado nos próximos dias.
Para especialistas em política externa dos dois países, a relação entre Macron e Lula é, ao mesmo tempo, uma aposta de projeção internacional e uma estratégia pragmática de enfrentamento de crises internas por parte de ambos.
Se, por um lado, o Brasil busca o apoio francês para aprovar o acordo União Europeia-Mercosul e fortalecer sua campanha por reforma no Conselho de Segurança da ONU, Paris também tem suas próprias agendas.
“Um precisa do outro”, diz Kevin Parthenay, professor de Ciência Política da Universidade de Tours e copresidente do Observatório para a América Latina e o Caribe da SciencesPo.
“Macron e Lula compartilham muitas perspectivas comuns e também vivem realidades de certa forma semelhantes na política interna e internacional”
Entre os desafios partilhados pelos dois líderes está o enfrentamento de crises e oposição crescente no cenário doméstico, diz Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics (LSE) e especialista em Europa.
“Os dois estão em uma situação frágil e encontram muita resistência por parte da oposição para poder avançar com a sua agenda de política doméstica”, avalia a professora do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).
Do lado brasileiro, Lula governa com um Congresso onde não tem maioria sólida, especialmente na Câmara dos Deputados. Boa parte da base parlamentar é formada por partidos de centro e centro-direita (o chamado “centrão”), que negociam apoio caso a caso, o que obriga o governo a fazer concessões constantes em nome da governabilidade. Além disso, a oposição ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro continua ativa e vocal.
Já Macron trabalha com um Parlamento fragmentado e depende do apoio de outras forças políticas para aprovar novas leis e projetos.
Em 2024, o presidente francês dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas após sofrer uma dura derrota na votação do Parlamento Europeu, que teve o partido de direita radical Rassemblement National (Reunião Nacional) como grande vencedor. Nas legislativas no país, a coligação de Macron acabou ficando em segundo lugar, atrás da união de partidos de esquerda.
Protagonismo
Ex-conselheiros de Macron para política externa afirmam ainda que o presidente francês vê o Brasil como uma ponte para expandir sua influência internacional.
Como membro original dos Brics e uma das principais lideranças do Sul Global (termo usado para se referir a nações emergentes da América Latina, África, Ásia e Oceania), o país se apresenta como uma alternativa menos complicada de acesso a esses blocos do que China, Rússia ou Índia, diz Panthenay.
“Falar com o Brasil é falar com o Sul Global”, resume o professor da Universidade de Tours.
A busca por mais protagonismo internacional do presidente francês se manifesta principalmente por meio das intervenções do governo em Paris nas tratativas sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, da adoção de uma postura mais dura em torno dos ataques de Israel a Gaza.
Da mesma maneira, o Brasil e o governo Lula trabalham desde o início de seu mandato em uma campanha para ampliação do protagonismo global.
O governo Lula também investiu em se posicionar como uma alternativa para a mediação da paz na guerra entre Rússia e Ucrânia, mas muitos críticos classificaram a empreitada como um fracasso.
Algumas declarações do presidente brasileiro sobre a “falta de iniciativa” do líder ucraniano Volodymyr Zelensky nas negociações para um cessar-fogo e sua presença nas comemorações em Moscou do aniversário de 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial, também não ajudaram sua posição, dizem os especialistas. (Com informações da BBC Brasil)