Domingo, 04 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 17 de junho de 2023
O governo Lula está sob cerco político. Em apenas seis meses, Arthur Lira (PP-AL) conseguiu transformar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no refém mais pressionado da Praça dos Três Poderes, além de desafiar o Palácio do Planalto. Diante de um cenário no qual a política cada vez mais se transforma em balcão de negócios, Lula não consegue aprovar nenhum projeto de lei se não tiver votos do Centrão, grupo de partidos controlado por Lira.
Desde 1988, quando Ulysses Guimarães liderou a Assembleia Nacional Constituinte, nenhum presidente da Câmara dos Deputados desfrutou de tanto poder quanto Lira. No início desta semana, auxiliares de Lula se debruçavam sobre mapas de cargos nos Estados. A estratégia traçada era para conquistar mais 120 votos na Câmara, uma vez que partidos de esquerda entregam ao Planalto no máximo 140. Se quiser aprovar um projeto de lei complementar, Lula precisa do apoio de 257 deputados.
O blocão formado por Lira reúne nove partidos, como PP, União Brasil, PSDB e PSB, e captura um terço da Câmara, mas ele próprio consegue aglutinar muito mais adesões, como mostrou o painel de votação da última quarta-feira, quando a Casa aprovou projeto que prevê prisão de até quatro anos para quem discriminar políticos.
O pedido de uma força-tarefa para melhorar o relacionamento com o Congresso foi feito por Lula, ontem, em reunião ministerial. As mudanças na equipe têm objetivo de ampliar a base aliada no Congresso com perfil conservador no momento em que Lira ameaça não pôr em votação projetos de interesse do Planalto.
Facilitador
“Sou um facilitador, mas a obrigação de colocar a base no plenário para votar é tarefa do governo, não minha”, costuma dizer o presidente da Câmara. Afirmou ainda não ser “Mãe Dinah” nem “João de Deus” para conseguir votos sem ter os “instrumentos” necessários. Antigo feudo político do PP de Lira, o Ministério da Saúde tem orçamento de R$ 188,3 bilhões e é a pasta mais cobiçada pelo partido. O presidente da Câmara nega que esteja atrelando a pauta de votações a barganhas desse tipo, mas aliados admitem a predileção pelo ministério de Nísia Trindade.
Na outra ponta, os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Casa Civil, Rui Costa, também são alvo de tiroteio do Centrão. Costa almoçou nesta semana com o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), amigo de Lira. “O governo tem de fazer gestos para ampliar a base porque, se não for assim, a temperatura vai aumentar”, disse Elmar.
Para o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (BA), as dificuldades enfrentadas pelo Planalto em votações na Câmara – como na análise da Medida Provisória que reestruturou o governo – serão superadas. “O presidente da Câmara está disputando o espaço dele de poder, que Lula considera natural”, disse Wagner.
Operação
Há duas semanas, quando operação da Polícia Federal fez busca e apreensão em endereços ligados a um ex-assessor de Lira, suspeito de desviar recursos de kits de robótica em Alagoas, o clima azedou ainda mais para o governo. Motivo: o deputado viu ali uma articulação do Planalto e do senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado de Lula e seu histórico adversário, para emparedá-lo e tirar os holofotes da crise no núcleo duro palaciano.
“Logo no início do ano, o governo poderia ter montado um bloco com o MDB e o PSB, mas decidiu não fazer isso. Foi um grande erro”, avaliou o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). “Com essa opção, o Executivo deixou de ser um polo organizador de sua base e terceirizou tudo para o Lira. Agora, tem de recuperar o protagonismo.”