Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2017
Mais novo astro da política brasileira, depois de ter tatuado o nome do presidente Temer no ombro direito, o deputado Wladimir Costa (SDD-PA) sempre misturou tribuna e palco em sua trajetória política. Autodenominado ‘federal do povão’, o parlamentar, que está em seu quarto mandato na Câmara, garante holofotes menos com sua atuação parlamentar — é dos mais faltosos — e mais com declarações e atitudes estudadamente amalucadas. Dos vários processos — por crime eleitoral, injúria, ameaça, peculato… — ele tem conseguido escapar, por enquanto.
Wlad, como é conhecido, está onde seu estilo agressivo pode lhe garantir votos: o interior do Pará, segundo confirmou sua assessoria. Ali, em estado de permanente campanha, ele percorre rios e visita comunidades de pequeno e médio portes onde é visto por alguns setores como uma espécie de ‘amigo do povo’, reputação conquistada com intervenções transmitidas por rádio pelas distâncias amazônicas do Pará onde vocifera contra os inimigos com palavras equivalentes a que dedicou ao deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ) durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça: ‘burro’, ‘incompetente’ e ‘desqualificado’.
O estilo inconsequente do deputado, no entanto, está sempre a ponto de lhe causar problemas. Na quinta-feira, foi publicada decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, que pede o ‘saneamento’ de um processo a que ele responde pelo crime de ameaça (Art. 147), passível de um a seis meses de prisão.
Em 20 de setembro de 2012, ele teria ligado para a casa de Terezinha Ribeiro Nascimento, que havia reclamado com ele por, supostamente, ter envolvido seu filho, Adelson Ribeiro de Assunção, em atividades de uma ONG sob suspeita. Falando com o filho dela, ele disse: “Olha, viado, vou te avisar uma coisa: eu fiz e faço e vou meter bala na casa dela”.
“A atuação dele é exatamente assim”, diz um jornalista paraense. “Ele ameaça e chantageia sem o menor constrangimento, usando as palavras mais chulas”.
Para mandar suas mensagens, Wlad entra no ar, usando uma rede de rádios comunitárias — que, segundo a lei, não poderiam ter fins comerciais, nem políticos. Como essas emissoras não estão em seu nome, não se sabe o número exato delas, mas alcançam grande parte do Pará.
Diante dos ataques raivosos transmitidos pelo rádio, um episódio que Wlad protagonizou, após um jantar em que Temer esteve presente na terça-feira, parece até pequeno — mas não é. Na saída do encontro, ao ser perguntado pela repórter Basília Rodrigues, da rádio CBN, se a famosa tatuagem em homenagem ao presidente era definitiva ou de henna e se o deputado poderia mostrar a imagem, o parlamentar disse: “Pra você, só se for o corpo inteiro”. Com isso, o deputado poderá vir a incluir em seu currículo um processo por assédio sexual.
Cassado no Pará
O mandato de Wladimir Costa foi cassado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Pará. Ele exerce o mandato porque recorreu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A decisão do tribunal paraense foi proferida, em julho do ano passado, com o voto unânime dos seis magistrados.
A corte eleitoral o acusa de ter recebido dinheiro “oriundo de fontes não declaradas” para a campanha à Câmara dos Deputados, em 2014. Ele também teria omitido da Justiça Eleitoral o montante de R$ 410.800 de sua declaração de valores. O caso de peculato também pode estar próximo de um desfecho.
Ele é investigado desde 2010, ao lado do irmão, Wlaudecir Rabelo, sob a acusação de ter ficado com dinheiro que teria como destino inicial servidores fantasmas. No fim do mês passado, a Procuradoria-Geral da República reafirmou a convicção de que ele é culpado.
Na manifestação, o procurador Rodrigo Janot destaca que Costa recebeu “reiterados depósitos em espécie que totalizaram a quantia de R$ 265 mil, entre abril/2003 a março/2005, enquanto que, nesse mesmo período, o total de rendas líquidas auferidas por seus três assessores atingiram o montante de R$ 210 mil” e que “chama atenção também a coincidência entre os valores sacados em espécie pelos assessores no período investigado (R$ 213,5 mil) e os valores depositados em espécie na conta do deputado”. O deputado nega e promete “sepultar a carreira política” caso seja culpado.
O empresário Jader Barbalho Filho, da tradicional família política paraense, também processa o deputado e antigo correligionário por calúnia e difamação. Entre outras ofensas, ele se referiu ao empresário como ‘vagabundo’, ‘desgraçado’, ‘ladrão’ e ‘cara horroroso’.
Também há um inquérito no Supremo, no qual o deputado é investigado desde 2010 por iniciativa do Ministério Público do Pará e que corre em segredo de Justiça para proteger algumas das partes envolvidas. O processo está pronto para uma decisão do relator, o ministro Dias Toffoli.